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Vidas, territórios e épocas se cruzam em “O Estranho”

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Vidas, territórios e épocas se cruzam em “O Estranho” Embaúba Filmes/Divulgação

Escrito e dirigido pela dupla Flora Dias e Juruna Mallon, o filme brasileiro O Estranho (2023) foi exibido na seleção do Festival de Berlim no ano passado. Rodado no Aeroporto de Guarulhos e arredores, o longa retrata o cotidiano de trabalhadores do local e as camadas históricas desse território ⎯ símbolo de progresso e monumento ao mundo globalizado, mas também marco do agressivo processo de colonização e ocupação tipicamente brasileiro.

Construído sobre um antigo território indígena, o Aeroporto Internacional de Guarulhos é um espaço onde 35 mil trabalhadores trabalham diariamente. O Estranho acompanha uma dessas pessoas, Alê (Larissa Siqueira), que tem sua vida atravessada pelas origens do aeroporto e por rastros de um passado em constante transformação.

As realizadoras definem o processo de O Estranho como uma total imersão no entorno de Guarulhos, na região metropolitana de São Paulo. Embora seja um lugar onde as pessoas transitam o tempo todo, o filme joga seu olhar para aqueles que ficam, cujas vidas se cruzam naquele solo onde trabalham.

Embaúba Filmes/Divulgação

“Pesquisa, preparação e filmagem nos levaram a perceber sua realidade como algo essencialmente heterogêneo e múltiplo. Quanto mais orientamos nosso olhar (e câmera) para os espaços e para as rotinas diárias dos trabalhadores do aeroporto, mais essa realidade se tornou rica e surpreendente. Ao lado do aeroporto encontramos bairros urbanos populosos, mas também comunidades rurais, sítios arqueológicos escondidos e povos indígenas em processo de retomada”, explicam as diretoras e roteiristas.

Depois de realizaram juntas o longa O Sol nos Meus Olhos (2012), Flora Dias e Juruna Mallon renovam nessa mais recente parceria a oportunidade de conjugar interesses em comum, que definem como “uma pesquisa cinematográfica sobre como o processo de autoconhecimento individual e de ativação da memória ancestral se conjuga com a busca por território e a construção de paisagem. Concebemos a paisagem não como um lugar de simples contemplação, mas como um espaço de luta de forças sociais, de confronto de diversas temporalidades e cheio de camadas de significação. Assim como o universo interior de uma pessoa, a paisagem é um processo pulsante e em constante construção”.

Juruna Mallon complementa: “Eu vejo O Estranho como um filme de encontros. Foram esses múltiplos encontros que, ao mesmo tempo, se tornaram a própria matéria-prima do filme e que definiram a trajetória que o filme iria percorrer. Eles foram os pés e a terra dessa longa caminhada que o filme se propôs a fazer. Num primeiro momento, o encontro se deu com o território de Guarulhos, os trabalhadores do aeroporto, os estudantes e habitantes dos seus bairros. Em seguida, ele se traduziu nas parcerias com equipe e personagens que foram brotando e nos ajudando a lidar cinematograficamente com aquela rica e complexa realidade”.

Exibido na competição deste ano do Festival Internacional da Fronteira, em Bagé, O Estranho ganhou prêmios como o de Melhor Som no Festival de Havana (Cuba) e Melhor Fotografia e Melhor Som em sua estreia nacional no Olhar de Cinema, em Curitiba.

Embaúba Filmes/Divulgação

O Estranho: * * * *

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Assista ao trailer de O Estranho:

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