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“Orlando, Minha Biografia Política” é um potente manifesto trans

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“Orlando, Minha Biografia Política” é um potente manifesto trans Filmes do Estação/Divulgação

Adaptação libertária, polifônica, instigante e sensível de uma das obras mais inovadoras da escritora inglesa Virginia Woolf (1882 ⎯ 1941), Orlando, Minha Biografia Política (2023) marca a estreia na direção cinematográfica do filósofo, escritor e ativista dos direitos trans Paul B. Preciado. O documentário de viés ensaístico do pensador espanhol recebeu quatro troféus no Festival de Berlim de 2023, incluindo o Teddy Award e um Prêmio Especial do Júri.

Em 1928, Virginia Woolf publicou Orlando, o primeiro romance em que o personagem principal muda de sexo no meio da história. O pensador Paul B. Preciado parte da história do jovem que nasce na Inglaterra elisabetana e durante uma estada na Turquia e acorda mulher de um dia para o outro, tornando-se também imortal, para discorrer sobre políticas do corpo, gênero e sexualidade a partir da própria experiência, de depoimentos dos personagens e entrevistados e de reflexões a partir de referências artísticas, culturais e históricas.

Orlando, Minha Biografia Política nasceu de uma proposta do canal ARTE para um cinebiografia de Preciado. O intelectual disse que não se interessava em contar sua trajetória porque ela já teria sido por Woolf em sua célebre novela.

O filme mistura realidade e ficção em uma espécie de carta filmada à autora inglesa, com a intenção de lhe contar que seu Orlando saiu da ficção quase um século depois para viver uma vida ⎯ muitas vidas ⎯ que ela, talvez, jamais pudesse imaginar.

Paul. B. Preciado. Foto: Filmes do Estação/Divulgação

Para responder a pergunta “Quem são os Orlandos contemporâneos?”, Preciado apresenta no filme 25 pessoas, todas trans e não binárias, de oito a 70 anos, que interpretam o personagem de Woolf ao mesmo tempo em que narram suas próprias vidas. Essas diferentes encarnações atuais de Orlando alternam-se com imagens e relatos de meados do século 20 que evocam figuras históricas trans em sua luta pela reconhecimento e visibilidade.

Orlando, Minha Biografia Política apresenta ao espectador o retrato de um ser coletivo com múltiplas faces, vozes, corpos. O filme segue a mesma estrutura do romance de Virginia Woolf: um diário de viagem pela história, ao mesmo tempo íntimo e político.

“Li pela primeira vez o livro de Woolf quando era um adolescente na Espanha, muito antes de saber que transição de gênero era possível. A personagem de Woolf permitiu-me imaginar a minha própria vida, desejar e encarnar essa mudança. Acontece que, com o passar dos anos, eu me tornei um Orlando. Minha biografia é feita da história coletiva de milhares de Orlandos invisíveis. É uma história de luta dentro de um regime opressivo de gênero e sexo binários. Ser trans não é apenas fazer a transição da feminilidade para a masculinidade (ou vice-versa), mas se engajar em um processo interno de ‘orlandização’: uma viagem poética em que uma nova linguagem para dar nome a si mesmo e ao mundo é inventada”, explica Preciado.

Inteligente e vivaz, Orlando, Minha Biografia Política consegue ser um manifesto contundente e humorado, reflexivo e divertido, inserindo-se em uma singular tradição de ensaios cinematográficos na mesma medida extremamente pessoais e universais dos quais os documentários da cineasta belga Agnès Varda são bons exemplos.

Filmes do Estação/Divulgação

Filmes do Estação/Divulgação

Orlando, Minha Biografia Política: * * * * *

COTAÇÕES

* * * * * ótimo     * * * * muito bom     * * * bom     * * regular     * ruim

Assista ao trailer de Orlando, Minha Biografia Política:

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