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“Ninguém Sai Vivo Daqui” denuncia a violência psiquiátrica

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“Ninguém Sai Vivo Daqui” denuncia a violência psiquiátrica Marina de Almeida Prado/Divulgação

Com roteiro livremente inspirado no premiado livro Holocausto Brasileiro, da jornalista Daniela Arbex, o filme Ninguém Sai Vivo Daqui (2021) denuncia o descaso e a violência do sistema de saúde psiquiátrica no Brasil. O drama dirigido por André Ristum acompanha a trágica trajetória de uma jovem internada à força pelo pai em um hospital em 1971.

O longa estreou mundialmente na seleção oficial do Festival de Tallin Black Nights, na Estônia, abriu o Festival de Brasília de 2023 e ganhou os prêmios de melhor filme e roteiro no Social World Film Festival, em julho deste ano, na Itália. Em Ninguém Sai Vivo Daqui, Elisa (Fernanda Marques) é baixada pela família no hospital psiquiátrico Colônia, na cidade mineira de Barbacena, por ter engravidado do namorado.

Sem qualquer sintoma de distúrbio mental, Elisa encara um pesadelo diário na instituição ao lado de outros internos ⎯ muitos como ela também sem nenhum problema de saúde. Confinada nessa prisão sanitária, ignorada por médicos e funcionários assediada pelo sádico auxiliar Juraci ⎯ interpretado pelo sempre ótimo ator Augusto Madeira ⎯, Elisa busca uma maneira de fugir dessa sucursal do inferno.

Embaúba Filmes/Divulgação



O elenco inclui ainda Rejane Faria, Naruna Costa e Andréia Horta, entre outros nomes. A história do hospital também rendeu uma série chamada Colônia ⎯ mas Ristum explica que existem diferenças entre as duas obras: “No filme, as coisas são mais concentradas. O longa acaba sendo mais impactante do que a série, que vai aos poucos entrando naquele sofrimento, na dureza que é a vida dessas pessoas. É uma experiência totalmente diferente, outra proposta sonora e conceitual, outra forma de entrar na história. A gente chega nos pontos mais fortes bem mais rapidamente, e também tem cenas exclusivas que foram feitas só para o filme. Ambos contam a mesma história, mas quem for ver o filme vai encontrar uma história que, embora conhecida, é uma nova história, pois conta de outra forma”.

Ristum, que assina o roteiro com Marco Dutra e Rita Gloria Curvo, conta que, quando tomou contato com a história do Colônia, as meninas grávidas que eram internadas pelos familiares foi uma das coisas que mais lhe chamou a atenção: “Aquilo me chocou demais, e entendi que talvez esse fosse o melhor caminho para contar essa história. Depois, eu encontrei inclusive uma afinidade com minha história pessoal, pois minha mãe, quando moça, bem antes de eu nascer, também passou por uma situação de uma gravidez antes do casamento e acabou de alguma maneira sendo obrigada a praticar um aborto”.

O livro da Daniela Arbex foi a inspiração inicial, mas não foi o único material: Ristum fez uma pesquisa extensa para o filme. “Fui até Barbacena e conheci o Colônia que hoje é outra coisa, e me conectei com várias histórias locais ali. Visitei o museu, conversei com psiquiatras sobre o contexto da época, assisti a documentários, acessei muitas fotos, entre as quais as famosas fotos que saíram no Cruzeiro nos anos 60. Tudo isso serviu de base para a construção de personagens ficcionais, mas em conexão com figuras reais”, explica o diretor.

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Ninguém Sai Vivo Daqui remete a outros títulos que levaram para o cinema o drama das pessoas esquecidas e maltratadas em instituições psiquiátricas ⎯ desde o clássico Um Estranho no Ninho (1975), de Milos Forman, até o nacional Bicho de Sete Cabeças (2000), de Laís Bodanzky. Segundo Ristum, esse tema é um ponto de debate até hoje no Brasil, mesmo depois da reforma psiquiátrica de 2001: “É muito importante debater esse assunto, que não foi superado, resolvido. O filme traz uma discussão que ainda é, infelizmente, muito atual e necessária”.

O filme foi inteiramente rodado em preto e branco, com uma expressiva fotografia assinada por Hélcio Alemão Nagamine ⎯ parceiro do realizador em outros projetos. Ristum justifica a escolha argumentando que não havia qualquer brilho ou cor na vida daquelas personagens: “O preto e branco é um personagem no filme, como o hospício. Eu não via outra maneira de contar essa história a não ser em preto e branco“.

Embaúba Filmes/Divulgação

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Ninguém Sai Vivo Daqui: * * *

COTAÇÕES

* * * * * ótimo     * * * * muito bom     * * * bom     * * regular     * ruim

Assista ao trailer de Ninguém Sai Vivo Daqui:

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