![“Ainda Temos o Amanhã” revive o neorrealismo italiano “Ainda Temos o Amanhã” revive o neorrealismo italiano](https://www.matinaljornalismo.com.br/wp-content/uploads/bfi_thumb/dummy-transparent-ot8zwe1ak3nhdsp6rv144h9upxur8ftb4n7tcg1j0u.png)
Vencedor do Prêmio Especial do Júri e eleito o melhor filme pelo público do último Festival de Roma, Ainda Temos o Amanhã (2023) foi visto por mais de 5 milhões de espectadores italianos, tornando-se um dos maiores sucessos de bilheteria da história recente do cinema do país. Estreia da atriz Paola Cortellesi na direção, o drama de época conta a história de uma mulher que passa a questionar seu papel na Roma logo após a II Guerra.
Ainda Temos o Amanhã tornou-se o nono filme de maior bilheteria de todos os tempos na Itália, arrecadando mais em 2023 do que os blockbusters Barbie e Oppenheimer. O longa recebeu 19 indicações no 69º David di Donatello, a principal premiação do cinema italiano, ganhando em seis categorias ⎯ incluindo Melhor Novo Diretor e Melhor Atriz, ambos para Paola Cortellesi.
Rodado em preto-e-branco e explicitamente calcado na estética do neorrealismo e das comédias populares italianas, Ainda Temos o Amanhã acompanha o cotidiano de Delia ⎯ interpretada pela própria diretora e roteirista ⎯, esposa dedicada e mãe de três filhos que se desdobra em afazeres domésticos e pequenos trabalhos a fim de ajudar a manter a casa. Conformada com uma vida dura de classe trabalhadora em uma Roma dos anos 1940, dividida entre o otimismo da libertação e a escassez do pós-guerra, e submissa ao autoritário e violento marido Ivano (Valerio Mastandrea), a protagonista só encontro consolo ao lado da amiga Marisa (Emanuela Fanelli).
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A família se prepara para o noivado da filha mais velha, Marcella (Romana Maggiora Vergano), que vê no casamento uma saída para uma vida melhor. No entanto, a chegada de uma carta misteriosa dá a Delia a coragem para questionar seu destino e de seus filhos ⎯ e, quem sabe, encontrar um caminho para sua emancipação.
Ainda Temos o Amanhã pesa a mão ao evocar a temática e o registro neorrealistas e extrapola a mera referência, resultando em uma narrativa excessivamente melodramática e datada. Se a boa interpretação de Paola Cortellesi como uma mãe-coragem remete apropriadamente à persona cinematográfica da atriz Anna Magnani, figura icônica que deu rosto ao neorrealismo, a estrutura dramática do filme parece uma cópia desbotada dos roteiros daquelas clássicas produções assinadas por mestres como Roberto Rossellini, Vittorio De Sica e Luchino Visconti.
Por outro lado, as inusitadas inserções musicais durante a história, com os personagens cantando e dançando em cena, quebram a engessada subordinação a um registro naturalista e acabam sendo responsáveis pelas melhores sequências do filme. No entanto, se a trama se desenrola quase até o final sem realmente empolgar, o desfecho insuspeitado eleva a qualidade da produção, encerrando Ainda Temos o Amanhã com um manifesto luminoso e redentor.
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Ainda Temos o Amanhã: * * *
COTAÇÕES
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