Reportagem | Sabatina Parêntese

Márcia Barbosa estreia Sabatina Parêntese: “Precisamos de uma ‘Diretas Já’ do clima”

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Márcia Barbosa estreia Sabatina Parêntese: “Precisamos de uma ‘Diretas Já’ do clima” Foto: Divulgação

Márcia Barbosa, renomada professora de Física da UFRGS e ex-Secretária de Política e Programas Estratégicos do MCTI, foi a primeira entrevistada na Sabatina Parêntese – Conversas abertas sobre o futuro, evento promovido pela Matinal no último sábado, 25 de maio. Em conversa com a jornalista Luísa Kiefer e o professor Luís Augusto Fischer, ambos editores da revista Parêntese, Márcia destacou a importância de reconstruir áreas afetadas por desastres climáticos com base na ciência, defendendo a criação de serviços integrados e a inclusão da educação sobre o tema no currículo escolar. A professora é uma das cientistas que assina o Programa de Emergência Climática e Ambiental, uma iniciativa de pesquisadores para propor soluções de médio e longo prazo para o equilíbrio do meio ambiente. Ela enfatizou a necessidade de executar ideias de baixo para cima, envolvendo comunidades vulneráveis e diversos setores da sociedade na formulação de políticas públicas eficazes e sustentáveis.

Confira abaixo os principais tópicos da conversa:

A ciência como pilar da reconstrução

Márcia Barbosa, que recentemente se exonerou do Ministério de Ciência e Tecnologia, destacou na conversa a importância de reconstruir áreas afetadas por desastres naturais de uma forma que as torne mais resilientes a futuros eventos climáticos. “A gente precisa reconstruir com base no que a ciência diz que tem que ser. Porque se eu reconstruir igualzinho como estava antes, vai chover de novo e nós vamos ter o mesmo fenômeno”, enfatizou.

Barbosa acredita que um dos maiores desafios é garantir que a reconstrução seja orientada por dados científicos robustos e práticas sustentáveis. Ela propõe um modelo de planejamento que não só repare os danos imediatos, mas também implemente mudanças estruturais que possam prevenir futuras catástrofes.

Serviços climáticos integrados

Um dos pilares da proposta de Márcia é a criação de um serviço climático integrado. Este sistema combinaria dados de estações meteorológicas públicas e privadas para fornecer previsões mais precisas e alertas antecipados. “Hoje em dia nós temos o Inmet, que fala se vai chover ou não, e o Cemadem que dispara alertas. O Cemadem não cobre todo o Rio Grande do Sul. Então, nós temos um problema,” explicou.

A ideia é criar uma rede local que permita um controle mais eficiente dos dados climáticos, integrando informações sobre água, solo e oceanos. “Nós vamos capturar o dado aqui, rodar os programas aqui, lançar os alertas aqui e passar para o Cemadem e para o Inmet a mesma informação. Mas a gente vai ter um controle local para manter essa rede,” disse Márcia.

Educação climática para a população

Outro ponto crucial levantado por Barbosa é a educação climática. Ela propõe a inclusão de programas pedagógicos sobre mudanças climáticas no currículo escolar, desde o ensino fundamental até o médio. “Como é que a gente educa a população? Educa as crianças. Já tem um grupo preparando como é que a gente inclui no ensino fundamental e médio a educação climática, que as pessoas aprendam sobre climas, aprendam como reagir”, explicou.

Márcia acredita que educar as crianças é uma maneira eficaz de alcançar toda a população, já que os jovens podem disseminar o conhecimento adquirido para suas famílias e comunidades. Isso cria uma base de cidadãos informados e preparados para responder a eventos climáticos extremos de maneira eficaz.

Inclusão e diversidade nas soluções climáticas

Um aspecto importante da abordagem de Márcia é a inclusão de diversas vozes no processo de reconstrução. Ela enfatiza a necessidade de ouvir comunidades indígenas, quilombolas e outras populações vulneráveis, que muitas vezes são as mais afetadas por desastres naturais. “Nós não vamos frear essa ideia maluca de fazer acampamento, tipo, acampamento de refugiado, se a população não externar o que ela quer. E é o que ela quer que a gente tem que entender,” destacou.

Barbosa acredita que a ciência deve ser uma ferramenta para empoderar essas comunidades, permitindo que suas necessidades e conhecimentos sejam integrados nas soluções propostas. “Essa construção tem que ser feita na cidade, mas ela precisa ser feita na universidade. A universidade conseguiu trazer pessoas que não tinham a necessidade de ir à universidade, só que ela não conseguiu mudar a universidade,” disse ela, ressaltando a necessidade de uma mudança estrutural nas instituições de ensino para acolher e valorizar a diversidade.

Desafios e caminhos para a implementação

Apesar da clareza e urgência das propostas, Márcia reconhece que a implementação de um plano de reconstrução resiliente enfrenta vários desafios. Entre eles, a burocracia e a resistência de alguns setores políticos e econômicos que se beneficiam do status quo. Ela sugere que uma abordagem eficaz seria utilizar editais de financiamento para incentivar pesquisadores e universidades a desenvolverem soluções inovadoras. “Abram editais na Faperg, já provoquei um vídeo nisso, em que parte desses recursos que estão vindo, que tem dinheiro internacional sendo ofertado para fazer ciência,” recomendou.

As falas de Márcia Barbosa tanto trouxeram propostas para uma reconstrução mais eficaz e sustentável do Rio Grande do Sul quanto serviram como um chamado à ação para governos, instituições e cidadãos.

“Diretas já” do clima

Márcia comparou a mobilização necessária para enfrentar os desafios climáticos com o movimento das Diretas Já, destacando a importância da participação popular e da ação coletiva. “Nós precisamos de uma ‘Diretas Já’ do clima, onde a população se mobilize para exigir ações efetivas e baseadas na ciência,” afirmou. Ela acredita que, assim como o movimento histórico pela democracia, a luta contra a crise climática requer engajamento de todos os setores da sociedade.

Mais sobre a Sabatina Parêntese

Essa primeira conversa deu o tom dos próximos encontros do projeto, que deve ocorrer a cada duas semanas. A “Sabatina Parêntese – Conversas abertas sobre o futuro” foi criada para estimular o diálogo crítico sobre temas fundamentais para a vida no estado, como crise climática, desenvolvimento e justiça social. Nesta primeira edição, dezenas de pessoas lotaram a Livraria Paralelo 30, que fica próxima à Redenção.

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