Parêntese #246: Chama quem entende
Assim como Porto Alegre tem personagens legendários, como Teresinha Morango, o Gurizada Medonha, o Zé da Folha, o Bataclã e o Badanha, também outras cidades do mundo carregam em sua bagagem figuras de grande valor popular. O Rio de Janeiro, por exemplo, tem o Neném Prancha.
Parecia uma criação imaginária de alguém – o João Saldanha o citava, outros ainda o mencionam –, mas não, ele existiu mesmo. Com a internet, até isso se sabe: diz a Wikipedia que ele se chamava, de batismo, Antônio Franco de Oliveira, viveu entre 1906 e 1976 e tinha esse apelido porque cada mão sua era uma raquete de grande.
“Futebol é muito simples: quem tem a bola ataca, que não tem defende”, reza uma das máximas de sua autoria. “Se concentração ganhasse jogo, o time do presídio não perdia partida”. “Se macumba resolvesse, o campeonato baiano terminaria sempre empatado”. “Quem pede tem preferência, quem se desloca recebe”.
Não é dele uma que o Lauro Quadros costumava repetir: “Truvisca no fedor que o beque faz contra”, uma apologia do cruzamento para o miolo da área. Nem é dele a ideia de chamar de “zona do agrião” a região decisiva do campo de jogo, no futebol – essa parece que é do próprio João Saldanha, uma das grandes figuras nacionais, por sinal nascido no Alegrete.
Lembrei do Neném Prancha porque uma de suas frases é sempre lembrada: “Pênalti é tão importante que quem devia bater era o presidente do clube”. Alta responsabilidade, correspondendo ao mais alto cargo.
Trata-se de uma variação livre da ideia de que, diante da necessidade, é preciso chamar quem entende, e não um metido qualquer.
A necessidade agora é votar amanhã. Votar porque vamos eleger uma câmara de vereadores e o prefeito ou a prefeita – ou, alternativamente, vamos indicar quem vai para o segundo turno nessa parada, momento em que exercitaremos o voto útil, ao qual me afeiçoo.
Sendo hora de necessidade, o que fazemos: chamamos o equivalente ao presidente do clube na hora do pênalti – sua majestade, o eleitor. Assim a democracia moderna instituiu, um voto por pessoa, cada voto valendo a mesma coisa. Lei igual para todos, todos iguais perante a lei, uma premissa ainda agora carente de total implementação, mas que segue sendo o nosso norte.
Foi pensando nisso que reunimos muitos depoimentos de eleitores porto-alegrenses. Não perguntamos pelo voto, e sim pela questão que cada um considera mais decisiva neste momento. As visões desses nossos amigos, leitores e eleitores por certo vão ajudar nossa audiência a consolidar sua convicção para amanhã. Clique aqui para conferir.
Luís Augusto Fischer
Nesta edição
Luís Augusto Fischer conversou com a pesquisadora e crítica literária Giovanna Dealtry sobre a nova edição de Vida Vertiginosa, de João do Rio. O autor é o homenageado da FLIP, que começa dia 9, em Paraty.
De Buenos Aires, Fernando Seffner compartilha conosco mais uma de suas reflexões sobre a vida portenha, dessa vez sobre a presença dos teatros na cidade e na vida cotidiana. Gustavo Borba escreve sobre a edição “Diálogos”, do Sarau Elétrico, que rolou na última terça-feira. Juremir Machado da Silva comenta sobre a entrega da medalha do Mérito Cultural da PUCRS para o ator Tony Ramos.
Para encerrar o sábado, trazemos ainda a resenha de Helena Terra sobre o livro mais recente de Camila Maccari, Infinita, e publicamos a primeira parte do ensaio de Jandiro Koch sobre a imigração gay-alemã no Rio Grande do Sul.
Boa leitura!
Enquete
O que está em jogo nesta eleição?
Ensaios & Crônicas
A vida vertida em linguagem teatral: Buenos Aires, por Fernando Seffner
Políticas do encanto, Sarau elétrico e a importância do diálogo para a construção de aprendizagem, por Gustavo Borba
Mérito Cultural da PUCRS para Tony Ramos, por Juremir Machado da Silva
Resenha
Corpo e castigo, por Helena Terra
200 anos da imigração germânica
200 anos de imigração gay-alemã no Rio Grande do Sul – Parte 1, por Jandiro Koch
As opiniões emitidas pelos/as autores/autoras não expressam necessariamente a posição editorial da Matinal.