Porto Alegre: uma biografia musical

Capítulo CXX: Hermes Aquino – 3 

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Capítulo CXX: Hermes Aquino – 3 

Estamos em 1978, Nuvem Passageira é um sucesso gigantesco, Hermes está em todos os programas de TV. Mas segue fazendo jingles na sua empresa Chap Criações Hermes Aquino de Propaganda, fundada em 1974 e ganhadora de muitos prêmios no Salão da Propaganda do Rio Grande do Sul. 

Só que os orçamentos subiram, claro.

…hoje sou o Hermes Aquino, conhecido em todo o país. Por isso, o preço também é outro e nem todos querem pagar.  

 

 

E então vem seu segundo LP, Santa Maria. E por uma gravadora muito maior, a mesma Capitol que havia lançado a banda que o tornara músico: sim, os Beatles.

A Capitol estava entrando no Brasil e contratando a peso de ouro alguns artistas de sucesso como ele. E diziam com todas as letras no material de divulgação:

Compramos o passe dele – Entra em campo Hermes Aquino com seu novo LP Santa Maria. 

Segue o texto:

Um grande artilheiro é assim: a gente lança, ele vai lá e fatura, certo? 

Novamente, o disco emplacou canções nas trilhas de novelas. 

A música-título, Santa Maria, que hoje soaria perfeitamente adequada no disco de algum padre, pastor ou cantor gospel, entrou em A Sucessora. Já a balada romântica Senhorita foi para Pecado Rasgado. Ambas da Rede Globo.

Só que, nem assim o LP chega perto da repercussão do seu disco de estreia. E olha que a cozinha tinha o Mamão do Azimuth na bateria e o baixista argentino Willy Verdaguer (Beat Boys, Secos & Molhados). Mais participações de Maurício Einhorn na gaita de boca e da locutora dos aeroportos Íris Lettieri – na canção Aeromoça.

Juarez Fonseca, escrevendo em 2011 sobre o seu lançamento em CD, diz sobre o álbum:

Acho que foi um disco apressado. Contratado pela Capitol, que chegava ao Brasil e queria sucesso imediato, Hermes entrou em estúdio sob pressão, sem ter tido tempo de amadurecer novo repertório. Estava no olho do furacão, pautado pelas novelas da Globo, as aparições no Chacrinha, e perdeu o controle. Mesmo assim o disco tem bons momentos, quando a orquestra de cordas não enche o saco do pop, como nos rocks Canto da Sereia e Teu Corpo na Areia.

Alguns fatos corroboram a tese de Juarez: Leis da Natureza usa os mesmos acordes de Nuvem Passageira. Chuva de Verão é uma espécie de releitura de Desencontro de Primavera, mais um fado que mirava em seu recente sucesso em Portugal.Sem Comentários  tenta colar na onda disco do momento.

Mas o sonho tinha acabado. 

Em 1979 Chuva de Verão ainda entra na trilha da novela Marrom Glacê, mas a Capitol desiste de permanecer no Brasil e transfere seu cast para a EMI.

A nova gravadora lhe propõe começar tudo de novo, do zero, lançando um compacto. Ele gravar e lança – com as músicas Esperança e Luzes da Cidade. Mas se sente abandonado pela divulgação e, reza a lenda, manda uma carta desaforada pro diretor-geral da gravadora na América Latina. 

Fácil imaginar o resultado.  

 

* * *

 

Sem nunca abandonar a publicidade, em 1981 monta novamente um grupo, o Eureka!, com algum estardalhaço. Mas pouco acontece. Tanto que no final de 1982 é novamente artista solo – participando do show coletivo Só Não Sai Se Chover, no Auditório Araújo Vianna. O show reúne os veterano Hermes e Carlinhos Hartlieb com os ascendentes Jerônimo Jardim e Pery Souza. Não choveu. 

 

 

Só que aí, pelos 42 anos seguintes, pouca coisa acontecerá. Ele vai seguir trabalhando com publicidade e levando uma vida um tanto quanto reclusa – ainda que volta e meia alguém regrave Nuvem Passageira, dos paulistas do Karnak à dupla Kleiton & Kledir. Já Desencontro de Primavera foi levada a disco pelo cantor português Roberto Leal e pelo sertanejo Leonardo. Machu Picchu volta e meia é tocada em shows por algum artista gaúcho.

Volta e meia ensaia uma tímida volta. Em 2014 é uma das atrações da reinauguração do Estádio Beira-Rio e tem relançados seus LPs em CD pelo selo Discobertas. Sua última aparição maior foi em 2019, como um dos convidados da série Ao Vivo no Soma, apresentada no Music Box Brasil pelo guitarrista e compositor Leo Henkin e o jornalista Roger Lerina.

 


Arthur de Faria é pianista, compositor e arranjador. Doutor em Literatura Brasileira pela UFRGS, na área de canção popular. Produziu 28 discos, dirigiu 12 espetáculos. Escreveu 52 trilhas para cinema e teatro em Porto Alegre, São Paulo e Buenos Aires. Lidera a Tum Toin Foin Banda de Câmara e teve peças interpretadas por orquestras e solistas de várias cidades brasileiras. Tocou em meia dúzia de Países e 19 estados brasileiros. Lançou 20 álbuns e EPs e três livros sobre a música de Porto Alegre, dois deles você leu primeiro aqui na Parêntese, em capítulos.

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