De novo, mas agora sem o Sioma

Na exposição “Sioma Breitman, o retratista de Porto Alegre”, que aconteceu de janeiro a abril de 2022, no Farol Santander, com curadoria de Fernando Bueno e Andrea Pires, havia uma seção importante dedicada à enchente de 1941. Além de várias (e excelentes) fotos do Sioma e reproduções de várias páginas da Revista do Globo, tentamos fazer uma espécie de imersão audiovisual, projetando um vídeo com imagens de água no piso de mármore do Grande Hall e reproduzindo trovões e som de chuva. Pouco mais de dois anos depois, o que era uma simulação virou realidade. O próprio Farol Santander, em especial seu subsolo, foi invadido pelo Guaíba, e na Praça da Alfândega voltaram a navegar canoas e botes. Não bastassem todas as advertências técnicas dos engenheiros do DMAE, havia essa lembrança artística recente da fragilidade de uma cidade ribeirinha. Centenas de milhares de fotos foram realizadas nestas últimas semanas, mas creio que poucas usaram o velho filme fotográfico preto e branco, material básico de toda a carreira de Sioma Breitman. As modestas fotos que envio para a Matinal, em 2024, são menos que nada perto daquelas que o Sioma produziu em 1941, mas talvez lembrem uma certa estética perdida nestes tempos digitais. A câmera foi uma Minolta 7, e os filmes foram Fuji 400 ASA.

Carlos Gerbase é cineasta, professor e escritor, mítico baterista da banda Os Replicantes.