Céu azul sobre a água turva
Acompanhei toda a tragédia das enchentes sem sair de casa, imobilizado por uma lesão no joelho. Entre banhos de balde, anti-inflamatórios e as imagens que chegavam pela mídia, os dias passavam lentamente, como se estivesse vivendo uma nova pandemia.
Da minha janela, na Rua André Puente, o único contato com a realidade vinha do cheiro ruim que podia sentir quando batia um vento, pois moro a apenas três quadras da Av. Farrapos.
Em 30 de maio, uma quinta-feira com sol, a água já estava retornando ao leito do rio. Enrolei uma atadura no joelho para amenizar a dor dos movimentos e fui até o Centro Histórico fotografar. Além do barro e do lixo, restavam enormes poças d’água com seus reflexos. Driblei aquele caos caminhando com dificuldade, procurando nas imagens um pouco de beleza.
Flávio Wild, designer gráfico e fotógrafo.