Professor Faraco
Foto: Eduardo Fernandes
Uma vez me perguntaram o que eu gostava de ler e eu disse Sergio Faraco. Riram porque liam, diziam, Tchekov, Hemingway. Livros complexos, diziam. Daí eu criei vergonha e fui ler Tchekov, Hemingway. Bem tranquilo. É tipo as coisas que o Faraco conta, só que na Rússia ou na França.
Quando escuto a gurizada falando que aprendeu a gostar de ler com Harry Potter, eu penso que é isso aí, meu Harry Potter foi o Sergio Faraco.
Tantas tardes febris eu passei escondido pra ler Guerras greco-pérsicas (Ai, a Cláudia) e aquele da professora de latim (a tia do guri!).
Eu me preocupava com o Faraco, porque ele não publicava mais, nos anos zero. Eu pensava: será que o Faraco virou um desses escritores que moram de favor na casa dum parente?
Catei o contato dele e escrevi perguntando se tudo certo contigo, vim te agradecer pelo teu trabalho, qualquer coisa que eu puder ajudar e tal. Tudo bem, disse o Faraco, obrigado, amigo. Mas só fiquei tranquilo esses dias, quando li que ele foi servidor federal a vida toda.
O Sergio Faraco só foi nomeado patrono da feira do livro de Porto Alegre agora, com mais de oitenta anos de idade, porque os que organizam feiras pensavam que ele já tinha sido patrono.
Decerto pensaram: esse aí já foi. Até que alguém foi conferir melhor a lista e que bom que deu tempo de corrigir a falta.
A obra do Faraco reúne e equilibra características principais de uma escola chamada literatura gaúcha, como os temas do campo e da fronteira, uma narração crítica e uma linguagem reveladora do conflito interior-capital, muitas vezes como metáfora do próprio indivíduo.
O Faraco é aquilo que as publicidades gostam de chamar “o melhor contista gaúcho vivo”. Se um dia ele morrer, vai ser considerado o melhor contista gaúcho de sempre.
Paulo Damin é tradutor e escritor, autor de Adriano Chupim (Martins Livreiro). Publicou na Parêntese o folhetim A lenda do corpo e da cabeça.
