Crônica

Excesso de tudo 

Change Size Text
Excesso de tudo  Seca Rio Madeira. Foto: Defesa Civil do Amazonas

Não faz muito, os colunistas escreviam com poesia sobre o nada, quando lhes faltava o que dizer. Já hoje em dia a gente quer falar sobre o tudo. E não sabe nem por onde começar. 

Quase que não entrego essa crônica para a Parêntese por conta do excesso de tudo.

Comecei escrevendo sobre a cena de um homem no interior de São Paulo, ele sozinho apagando focos de incêndio em uma plantação. Enquanto isso acontecia, deputados defendiam a anistia aos golpistas do 08 de janeiro na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados. Prioridades, prioridades.

Mudei de ideia ao ver a foto do Rio Madeira, na altura de Porto Velho, com menos de um metro de água e mais de cem dragas gigantescas da mineração ilegal secando ainda mais o leito já virado em areia. Isso logo depois de uma ação da Polícia Federal e do Ibama que destruiu 459 dessas máquinas de matar rio. Vale a máxima: e tem muito mais de onde saíram essas.

Fui olhar para o horizonte em busca de um assunto mais ameno, mas que horizonte? Porto Alegre coberta pelas cinzas das queimadas não inspira ninguém a escrever, só a chorar. Volte algumas casinhas e chore mais ainda.

Sempre teremos o Pablo Marçal, pensei então, o preferido dos jovens em São Paulo. Viu as imagens dele sendo tratado como um ídolo na Bienal do Livro de São Paulo ao dizer que, se eleito for, vai censurar – ora veja – os livros? Aí baixa aquela tia inconformada, olha o que faz a falta de leitura, o desconhecimento da história, o desinteresse pela política, o excesso de internet no melão dessa turma. Fato é que sobra um fardo cada vez mais pesado nos ombros das mulheres, as grandes responsáveis por rejeitar nas urnas as excrescências que aparecem a cada eleição. Que as companheiras paulistanas façam a parte delas mais uma vez.

Enfim, quando estava quase desistindo de entregar a coluna, encontrei um assunto: o orgulho de ver uma tática eleitoral vencedora em Porto Alegre ser copiada pelos Estados Unidos. Nem vem que não tem, quem disse primeiro que carne de cachorro ia virar a la minuta fomos nós, na eleição para a prefeitura de 2020. Pelo menos nos deem o crédito por essa estratégia de sucesso.

Agora que rolou uma cópia descarada, é de se esperar outra façanha que sirva de modelo aos marqueteiros de toda a terra. Por exemplo, na reta final da eleição 2024, pode passar um carro de som berrando que, se a situação não ganhar, os porto-alegrenses vão comer carne humana.

Não dá ideia. 

 


Claudia Tajes é escritora e roteirista. 

RELACIONADAS
;
ASSINE O PLANO ANUAL E GANHE UM EXEMPLAR DA PARÊNTESE TRI 1
ASSINE O PLANO ANUAL E GANHE UM EXEMPLAR DA PARÊNTESE TRI 1

Esqueceu sua senha?

ASSINE E GANHE UMA EDIÇÃO HISTÓRICA DA REVISTA PARÊNTESE.
ASSINE E GANHE UMA EDIÇÃO HISTÓRICA DA REVISTA PARÊNTESE.