Crônica

Contando com isso

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Contando com isso Foto: Maia Rubin

Um artigo da revista New Yorker desta semana relata uma história da cidade de Montpellier, capital do estado de Vermont, nos EUA. Ela foi inundada em julho de 2023, ao ser atingida por 123 mm de chuva. Às margens da confluência de dois rios, com cota de inundação de 4,5 metros, as águas foram a 6,4 m. Todo o centro comercial foi alagado, pessoas perderam suas casas, as empresas seus carros, salvando o que puderam de barco. Com a elevação das temperaturas em 2023, cientistas previram que o que ficou conhecido como a grande cheia de 2023 aconteceria de novo. 

Em dezembro, atingida por uma mistura de neve derretida e chuvas, a cidade voltou a inundar. O governador, republicano, admitiu que agora entendia que mudança climática existia, algo que negara em toda a sua campanha. 

Neste cenário familiar, uma diferença: a Câmara de Deputados de Vermont decidiu responsabilizar as empresas de combustível fóssil, campeãs em emissão de carbono entre 1995 e 2023, criando o que chamaram de Climate Superfund Act. O projeto de Lei se baseia num princípio de uma lei federal, em que aqueles que poluem devem pagar a reconstrução do que destroem. O governador vai vetar o projeto, mas ele volta para a Câmara, que reverterá o veto. Maryland, Nova York e Massachussetts preparam leis similares. 

As empresas de óleo, gás e carvão, que tiveram lucro recorde no ano passado (100 bilhões de dólares), certamente se apoiarão em outros governos e legisladores que as defendem, para litigar o caso. Aqui no RS, certamente teriam o apoio daqueles que hoje continuam insistindo que a culpa do que houve aqui é da chuva, que nada poderia ter sido previsto. Responsabilizar financeiramente os verdadeiros culpados talvez seja mais eficiente que as advertências que a ciência, há décadas, propaga. Quem não se sensibiliza com a dor de pessoas é, com frequência, muito sensível a dores em seu bolso.  

Será que a maioria de nós continuará a se colocar nas mãos de “líderes” leais à insana exploração imobiliária que vemos na cidade? À volta ao uso de combustível fóssil, minerando carvão?  Eles, com certeza, estão contando com isso.


Cristina Bonorino é imunologista, professora titular da UFCSPA e pesquisadora 1A do CNPq.

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