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Talmud: interpretação em movimento

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Talmud: interpretação em movimento Foto: Brigade Piron

Em seu sentido original, Talmud significa “estudo” em hebraico. É, antes de tudo, um milagre do “pensamento orgânico”: o conjunto de livros que compila uma série quase infinita de matérias e assuntos explorados desde a Antiguidade pelos judeus. Seus tópicos vão da agricultura à moralidade, da interpretação de sonhos à ética, passando pelo folclore, anedotário, teologia, provérbios, medicina, magia etc. 

Esse apetite absolutamente enciclopédico vem apresentado num estilo até então único na história da literatura (se é que podemos chamar o Talmud de literatura; mas acho que podemos): a sucessiva e inesgotável série de debates, exegeses e contendas rabínicas é exposta numa dialética afiada inclusive graficamente: no centro da página, um versículo extraído da Torah (a Bíblia judaica, o Pentateuco), e nas margens e no rodapé os comentários dos exegetas — interpretações, contendas, novas histórias, outras passagens religiosas, citações. Se a Ilíada e a Odisseia, nascidas da tradição oral, deram origem à literatura Ocidental, ao Talmud – surgido inicialmente sob os mesmos influxos do pensamento exposto a viva voz – podem ser atribuídos os primórdios da erudição filosófica e literária. Interpretação ativa, em movimento. Barthes e Derrida são seus herdeiros.

Dividido entre a Mishná (“estudo repetido”) e a Gemará (“completude”), além de alguns materiais auxiliares, o Talmud é testemunha – e documento pulsante no reino das ideias – das atribulações milenares do povo judeu. A Mishná, que é seu texto central, foi editada nos anos subsequentes à destruição do Segundo Templos de Jerusalém (70 d.C). Nos séculos seguintes, gerações de rabinos continuaram a tradição. Grande parte desses ensinamentos foram posteriormente reunidos em dois corpos: o Talmud de Jerusalém e o Talmud da Babilônia. Ambos estão escritos nos dialetos aramaicos usados em Israel e na Babilônia.

A versão babilônica é a mais amplamente estudada. Gerou uma miríade de novos comentários e explicações. As canônicas são aquelas de Rashi (acrônimo para Rabino Shlomo Yitzchaki), um sábio estabelecido no século X na França, e outra de um grupo de eruditos (leia-se sempre rabinos) descendentes ou alunos do próprio Rashi. Esse conjunto de comentários vem impresso no Talmud babilônico. Uma edição padrão tem quase três mil páginas divididas em diversos volumes. As horas de estudo costumam atravessar uma vida inteira.


Leandro Sarmatz é escritor e editor.

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