Troca de comportas por muros pode tornar mais lento o escoamento de cheias, diz IPH
O Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae) anunciou nesta quarta-feira (19) o fechamento permanente de oito das 14 comportas que fazem parte do sistema de proteção contra cheias de Porto Alegre. As estruturas devem ser substituídas por muros de concreto, segundo o órgão. O projeto para a obra deve ser concluído dentro de 30 dias.
Sobre a medida, o Instituto de Pesquisas Hidráulicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) pondera que o escoamento de água deve ser mais lento, com apenas seis pontos de vazão em caso de cheias. Para a Portos RS, o projeto do Dmae deve abranger portões que não são utilizados como acesso pelas embarcações.
As comportas que devem ser fechadas são as de número 3, 5, 7, 8, 9, 10, 13 e 14 (como mostra o mapa abaixo). O portão 11 ficará parcialmente aberto, mantendo uma abertura de 4 metros de largura para acesso de veículos e pedestres ao cais.
Segundo o Dmae, o valor da obra deverá ser conhecido apenas quando o projeto for concluído. Posteriormente será contratada a execução da construção. O órgão estima que o fechamento completo deve ocorrer entre o segundo semestre de 2024 e a primeira metade de 2025.
O presidente da Portos RS Cristiano Klinger afirma que a empresa não utiliza muitas das comportas que estão abertas hoje e por isso o fechamento não afetaria o acesso ao porto. “Por nós não há problema algum em serem fechadas, desde que isso esteja dentro do projeto definitivo do Dmae. Tratam-se de comportas que não utilizamos hoje em dia e que ficam permanentemente fechadas.”
Para prefeitura, Muro foi única estrutura que não falhou no sistema de proteção
No início da enchente, especialistas afirmaram à Matinal que a falta de manutenção no sistema de proteção contra as cheias fez com que ele falhasse, ocasionando a inundação de partes de Porto Alegre, ainda que o nível do Guaíba tivesse ficado abaixo do que a proteção garantiria. Nesta quarta, a prefeitura reconheceu que apenas o muro da Mauá não falhou durante a enchente.
Quando a cidade ainda estava sob águas, o consultor Carlos Tucci recomendou que o sistema passasse por uma avaliação antes de alguma intervenção. “A primeira coisa que tem que fazer é um diagnóstico geral. Tem que fazer uma revisão geral. Precisa saber o que falhou, onde falhou e fazer os consertos”, disse ele à Matinal em maio. “Precisa ter um protocolo permanente de monitoramento e atualização de forma que isso não aconteça nesta magnitude que ocorreu. Essas são lições que vamos aprendendo.” Ainda no início da crise, o prefeito Sebastião Melo (MDB) já sugeria trocar as comportas por uma “nova tecnologia”.
Menos trabalho de manutenção, mas lentidão para escoamento
A troca, contudo, irá gerar consequências. À Matinal, o professor Rodrigo Paiva, do Instituto de Pesquisas Hidráulicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), afirma que, para escoar novas inundações, outras comportas próximas às que serão fechadas são uma alternativa. “A consequência [do fechamento das oito comportas] seria um escoamento mais lento. Mas durante a cheia de 2024, possivelmente por questões práticas, não foram todas as comportas que foram abertas para escoar a água de inundação”, diz Paiva.
Segundo o professor, com a colocação de muros no lugar das comportas a água deve escoar pelos portões que restaram. Uma avaliação precisa da medida, no entanto, exige análise de cada comporta. “A opção pelo fechamento definitivo diminui o trabalho de manutenção e insegurança por alguma falha no fechamento durante uma próxima cheia”, conclui.
O diretor-geral Mauricio Loss disse à GZH que as comportas que serão substituídas por muros já estavam fechadas há muito tempo. Em nota da prefeitura, Loss afirmou que a medida deve otimizar ações do Dmae nos demais portões, quando houver necessidade.
Para ficar na mesma altura do atual nível de proteção, as futuras construções deverão ter três metros de altura. Vale lembrar, contudo, que o Muro da Mauá também possui três metros para baixo, sob o chão, de forma a ter melhor ancoragem e proteção. Questionado se essa nova construção terá os três metros inferiores, o Dmae evitou confirmar neste momento. A assessoria do departamento informou que o “projeto ainda está em desenvolvimento nos seus aspectos técnicos”.
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