Reportagem

Ciclovia sobre canteiro na Wenceslau Escobar vai preservar árvores e deve ser entregue ainda em 2024

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Ciclovia sobre canteiro na Wenceslau Escobar vai preservar árvores e deve ser entregue ainda em 2024 Sinalização usada para levantamento topográfico já foi retirada do local | Foto do dia 22 de junho, enviada por uma leitora

Marcações no canteiro central da avenida Wenceslau Escobar, no bairro Tristeza, zona sul da capital, chamaram a atenção de moradores nesta semana. A sinalização faz parte do levantamento topográfico que antecede as obras, previstas para começar e terminar no segundo semestre deste ano, segundo informou a assessoria da Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana (SMMU) à Matinal.

O trecho de cerca de 800 metros fica entre as avenidas Pereira Passos e Otto Niemeyer e será bidirecional, conforme proposta apresentada à comunidade em reunião realizada em março. A pista sobre o canteiro não terá desenho em linha reta, visando preservar a vegetação no local. Segundo a SMMU, nenhuma árvore será removida.

O projeto para a região prevê ainda outros 500 metros entre a avenida Copacabana e a rua Castro de Menezes, ainda sem previsão de implementação. Essa porção vai ligar a nova ciclovia sobre o canteiro da Wenceslau ao trecho já existente que termina na Castro de Menezes e segue em direção à orla na avenida Diário de Notícias.

Atualmente, dos cerca de 80 quilômetros de ciclovias de Porto Alegre, oito seguem interditados, na Avenida Ipiranga, bloqueada antes da enchente. No ano passado, a ciclovia foi fechada por conta de quedas de taludes, também consequência de eventos climáticos extremos. O único trecho liberado na Ipiranga é o que fica entre a Edvaldo Pereira Paiva e a Erico Verissimo. 

De um lado, conforto térmico; de outro, risco para segurança

A solução encontrada para os ciclistas da Tristeza é uma das alternativas mais simples de instalação de estrutura cicloviária por não demandar alterações nas vias em que passam veículos, explica Ariadne Samios, coordenadora de Mobilidade Ativa da WRI Brasil (World Resources Institute). O fato de manterem as árvores no local é apontado pela especialista como um ponto positivo, pois oferece conforto térmico a quem pedala.

Samios considera a ciclovia sobre um canteiro “uma solução interessante” para o caso específico da Wenceslau Escobar. A urbanista observa, entretanto, que a recomendação geral da WRI é dar preferência a ciclovias ou ciclofaixas nos bordos das ruas, modelo que oferece acesso mais direto aos serviços e comércio locais e reduz a chance de acidentes durante travessias necessárias para quem se desloca de uma ciclovia sobre um canteiro e precisa cruzar as ruas.

Tráfego de ônibus e velocidade máxima de 60km/h podem ser risco para ciclistas | Foto: Marcela Donini

Outro alerta feito pela especialista é a velocidade máxima de 60 km/h na Wenceslau Escobar, e o trânsito de ônibus, veículo que oferece riscos para os ciclistas por seus muitos pontos cegos. Para Samios, a prefeitura deveria reduzir o limite na avenida, considerando o trecho de 500 metros que será implementado no futuro na pista para carros. “Em vias com ciclofaixas não é recomendada velocidade acima de 50km/h, ainda mais com tráfego de ônibus”, afirma. A mudança na velocidade foi uma das demandas apresentadas pela comunidade na reunião ocorrida em março com o município. Um projeto de lei tramita na Câmara de Deputados para reduzir os limites máximos em vias urbanas.

De acordo com a assessoria da SMMU, ainda não há definição sobre como será o desenho desses 500 metros que ligarão a ciclovia do canteiro até o trecho já existente na Diário de Notícias. As alternativas estudadas consideram rotas na avenida Copacabana. Uma delas é uma ciclovia separada e asfaltada no lado esquerdo da via, mantendo as vagas de estacionamento do lado direito, com ciclovia bidirecional do lado esquerdo, tornando a rua com sentido único. 

Em Buenos Aires, barreiras mais robustas dão mais segurança aos ciclistas | Foto: Ariadne Samios/Acervo Pessoal

Para Samios, ciclovias bidirecionais em vias de sentido único são um risco para o ciclista – situação presente na avenida José do Patrocínio, na Cidade Baixa, por exemplo. “O ideal seria fazer, nos bordos da Wenceslau, uma ciclovia unidirecional de cada lado, no mesmo sentido dos veículos. As conversões são intuitivas para o motorista, ele acaba olhando apenas para o lado de onde vêm os carros”, explica. Além disso, a especialista observa que “ciclista não gosta de fazer desvios”. Ou seja, pode se tornar comum as bicicletas seguirem pela Wenceslau Escobar apesar de a ciclofaixa continuar para dentro do bairro.

Ciclovia em Buenos Aires | Foto: Ariadne Samios

A urbanista destaca ainda a importância de ter uma separação física adequada entre a pista para veículos e a via exclusiva para bicicletas, de preferência um segregador para não permitir que carros subam na ciclofaixa. “Em Belo Horizonte, há um modelo de segregador que se assemelha a um meio-fio, mais curto, um bloco com 20 centímetros mais ou menos. São mais compridos que os tachões usuais em Porto Alegre, sobre os quais os carros ainda conseguem invadir a ciclovia”, explica Samios, que cita ainda o exemplo de Buenos Aires, onde também há barreiras mais adequadas. O modelo dá mais segurança ao ciclista e ainda pode servir de apoio para o pé durante pausas, ajudando no conforto.

Apesar dos alertas, a urbanista celebra a novidade: “É sempre bom ver malha cicloviária sendo implementada. Vai ser um ganho importante para o bairro”. Samios também cita a crise climática: “Tá todo mundo careca de saber que os benefícios da mobilidade ativa são enormes. Ainda mais neste momento que vivemos, de efeitos diretos de um clima extremo. Precisamos urgentemente caminhar para uma mobilidade sustentável.”


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