Reportagem

Além do guapuruvu, Plaenge recebeu autorização para remover mais 90 árvores

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Além do guapuruvu, Plaenge recebeu autorização para remover mais 90 árvores Construtora obteve o aval para remover 53 vegetais nativos do RS

Não houve somente a derrubada do grande guapuruvu para a construção do empreendimento Verdant, no bairro Petrópolis – a construtora Plaenge recebeu autorização para remover também outras 90 árvores do terreno. A Matinal teve acesso à autorização de retirada de plantas, emitida pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Urbanismo e da Sustentabilidade (Smamus) em dezembro de 2023, com validade de um ano. São vegetais de 38 espécies, entre árvores, arbustos, herbáceas e trepadeiras, entre nativas e exóticas – considerando também as plantas de gênero não-arbóreo, a empresa teve aval para remover 105 exemplares. A partir de imagens de parte do terreno feitas por um leitor, é possível constatar apenas três árvores mantidas: uma araucária, um jerivá e outra espécie não identificada.

O terreno do futuro condomínio Verdant ocupa uma área de 0,42 hectares, onde antes havia sete residências, entre as ruas Felipe de Oliveira e Eça de Queiroz. 

Documento interno da Diretoria de Licenciamento e Monitoramento Ambiental

A construtora obteve o aval para remover 53 vegetais endêmicos do Rio Grande do Sul. Além dos guapuruvus – foram duas árvores da mesma espécie derrubadas –, a Plaenge tem autorização para remover exemplares de espécies como cerejeira, araçazeiro, pitangueira, canela-de-cheiro, canela-guaicá, chal-chal, cocão, pata-de-vaca, esporão-de-galo, nogueira-de-iguape, grandiúva, aroeira-vermelha, capororocão e camboatá vermelho – em alguns casos, a autorização se estendeu a mais de um exemplar de cada espécie. 

Entre vegetais exóticos, a incorporadora removeu exemplares de 22 espécies, muitas delas frutíferas, como abacateiro, seafórtia, limoeiro, mangueira, citrus, nespereira, malvavisco, amoreira, bergamoteira, dracena, cafeeiro, figueira exótica, pingo-de-ouro, caquizeiro, jacarandá, alamanda, cróton, tamareira-de-jardim, pau d’água, cheflera, hibisco e caliandra.

A Smamus, na autorização, condicionou a remoção das plantas ao resgate de possíveis animais que as utilizassem como habitat – no caso, por exemplo, de ninhos de pássaros ou colmeias de abelha, além de outros animais nativos. 

A construtora respondeu, nesta quarta-feira, aos questionamentos que a Matinal havia enviado na terça, além de novas perguntas enviadas pela reportagem. A Plaenge Empreendimentos diz que “sempre teve como prioridade o compromisso com a segurança estrutural e o bem-estar urbano, por isso, e com autorização dos órgãos públicos responsáveis a partir do cumprimento das leis ambientais vigentes”, e que removeu o guapuruvu como “medida preventiva” para mitigar danos ao muro de divisa com os outros terrenos.

A empresa diz que está previsto o plantio de novas plantas no local. “Serão plantadas cerca de 99 árvores, dentre delas 13 ipês-amarelos e quatro patas-de-vaca, todas nativas da região. Esta medida compensatória não apenas visa reduzir o impacto da retirada do guapuruvu, como contribui para fortalecer o ecossistema urbano, promovendo um ambiente mais equilibrado e saudável para a comunidade”, disse a construtora, em nota. A Plaenge diz que a espécie tem “fragilidade intrínseca para ambientes urbanos, tendo facilidade de quebra de galhos e até mesmo de queda”. De acordo com um estudo da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), porém, trata-se de uma “espécie tolerante e capaz de se adaptar ao ambiente urbano”.

Tapume em frente à obra

Construtora não divulga número de plantas removidas

Questionada nesta quarta-feira sobre o total de outras plantas removidas da área, a empresa não respondeu. Disse que “todos os vegetais removidos constam na autorização de remoção vegetal”, sem mensurar o número de espécies retiradas. Mas a Matinal teve acesso às autorizações da Smamus para as 105 remoções através de um documento interno da Diretoria de Licenciamento e Monitoramento Ambiental.

Sobre o incidente com o funcionário que abaixou as calças para um morador do bairro que filmava a retirada de cartazes de protesto contra a retirada do guapuruvu, a Plaenge afirma que “preza pelo respeito diante de todos os públicos com os quais se relaciona”, e que procura ouvir todas as pessoas que se dirigem à empresa. “O funcionário em questão, vinculado à Upper Service, garantiu não ter feito ou tido a intenção de fazer qualquer gesto ofensivo. De qualquer forma, ele não prestará mais serviço à construtora”, informou a empresa.

A deputada estadual Sofia Cavedon (PT) informou, nesta quarta-feira, que abrirá uma representação junto ao Ministério Público, por conta das remoções. “Estão destruindo a solidez do solo de Porto Alegre, mesmo com a cidade passando por toda a catástrofe climática”, disse a deputada em suas redes sociais.

Compensações não remediam remoção de árvore adulta, diz ecologista

Para o presidente da Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (Agapan), Heverton Lacerda, as compensações não garantem o serviço ambiental que uma árvore adulta desempenha, mesmo quando se trata de espécies nativas,. E sequer há garantia de que as mudas plantadas crescerão sadias. “Indo mais além, é preciso ter em mente que não é adequado desguarnecer uma região, um bairro, uma rua de sua arborização”, disse o ecologista à Matinal. 

É possível constatar, para Lacerda, que o Petrópolis, bairro do novo condomínio, sobretudo a rua Eça de Queiroz, tem poucas árvores e muitos prédios.  “Esse tipo de atitude antiecológica é a marca da gestão do prefeito Sebastião Melo e de empresários da especulação imobiliária. Em uma cidade que está ecologicamente em decomposição, com a qualidade do ar cada vez pior e com aumento de ilhas de calor em função da supressões de vegetação, do aumento de áreas concretadas e asfaltadas e de fachadas envidraçadas, esse tipo de atitude precisa ser encarado como ato ecologicamente criminoso, ecocida”, afirma.

Em reportagem publicada pela Matinal no dia 31 de maio, o biólogo Francisco Siliprandi alertou para as ameaças à saúde da arborização porto-alegrense, por conta das enchentes – vegetais que já sofriam, de acordo com o especialista, com má gestão do município.

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