O mercado não resolve, prefeito Sebastião Melo

O prefeito Sebastião Melo (MDB) disse neste sábado (11/5) no Jornal Nacional que as pessoas desalojadas por causa da maior enchente na história de Porto Alegre se encontram nesta situação porque não deveriam morar onde moram.

Moradia digna é, sem dúvida, um dos pilares fundamentais das medidas de justiça climática. Faltou o William Bonner perguntar o que a atual gestão vem fazendo nessa área. Em maio de 2023, a Matinal questionou Melo sobre a política de habitação social para a capital gaúcha. Perguntei a Melo se o mercado privilegiaria a população mais pobre ao construir novos empreendimentos na área central de Porto Alegre a partir dos recentes incentivos da prefeitura para a região. O prefeito respondeu que acreditava no mercado. “O mercado é quem vai resolver”, afirmou.

Não é o que estamos vendo, prefeito.

O mercado é a Grendene sugerindo aos funcionários doarem suas cestas básicas às vítimas das enchentes. 

É a CEEE Equatorial, privatizada pelo governador Eduardo Leite (PSDB), colocando em risco a vida de trabalhadores e prestando péssimos serviços nos eventos extremos anteriores a essa catástrofe. Na atual crise, a mesma Equatorial desligou a energia da casa de bombas que inundou Cidade Baixa e Menino Deus sem aviso prévio à prefeitura, conforme o senhor afirmou. Dois bairros centrais. As pessoas não deveriam morar lá, prefeito?

Tampouco no Centro Histórico ou no 4° Distrito, que estão debaixo d’água há mais de uma semana? Duas regiões que receberam da sua gestão planos urbanísticos específicos para adensamento que beneficiam incorporadoras com isenção de impostos.

Quem está resolvendo, prefeito, é o Estado e a força popular.

O Estado, pelas mãos dos servidores do Departamento Municipal de Água e Esgoto (Dmae) público, que foi sucateado nos últimos anos, como a Matinal tem apontado desde 2021, porque o senhor, assim como o ex-prefeito Nelson Marchezan Jr (PSDB), sonha em vendê-la. E apesar da negligência de vocês, seus técnicos têm trabalhado incansavelmente para restabelecer o abastecimento de água à população. 

O Estado são as Defesas Civis que atuam nos resgates – ainda que com falhas nos alertas. São as centenas de bombeiros e o Exército, que estão salvando gente junto com a força popular – que se organizou de forma ágil e espontânea de uma forma impressionante e tem feito a diferença nas ações de salvamento e acolhimento.

É o dinheiro do Estado que vai reconstruir bairros e cidades inteiras que a água varreu por negligência de autoridades como Leite com políticas de prevenção que considerassem as mudanças climáticas. Sem falar no desmonte da legislação ambiental promovida pelo atual governador e parlamentares da sua base.

Prefeito Sebastião Melo, o senhor sabe que as casas de bombas precisavam de investimentos e manutenção, conhece as áreas de risco de Porto Alegre, que dobraram nos últimos 10 anos. O senhor mesmo disse no JN que não foi dada às pessoas agora desalojadas a oportunidade de moradia digna. 

O senhor foi vereador por três mandatos, vice-prefeito de 2013 a 2016, e está no seu quarto ano como prefeito. Estava esperando o quê para oferecer moradia digna à população da sua cidade? Uma enchente histórica?

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Marcela Donini é editora-chefe da Matinal.