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A emergência e o emergir! A Tragédia Climática e a Filosofia

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A emergência e o emergir! A Tragédia Climática e a Filosofia Michael Sandel, filósofo político. Foto: Divulgação


Por Gabriel Goldmeier, coorganizador do Clima e Sociedade

No último mês aqui no Rio Grande Sul, acompanhamos estarrecidos a maior tragédia climática da história do Brasil: 600 mil pessoas fora de suas casas, 80 mil em abrigos, mais de cem trechos de estradas e pontes destruídos, milhares de escolas, postos de saúde, comércios, indústrias e até mesmo nosso aeroporto internacional sem perspectivas de reabrir. Mais do que fatos, tal desastre nos provoca um sem-número de reflexões. A seguir – além de anunciar um ciclo de palestras promovido pela Filosofia da UFSM e ANPOF em apoio às vítimas dessa tragédia –, proporei alguns possíveis questionamentos ético-políticos diretamente associados a tudo o que está acontecendo. 

Vivemos em um país (até então) pouco afetado por desastres climáticos. Além disso, somos um povo que não costuma projetar o longo prazo. Acabamos, pois, com vácuos de lideranças e dificuldades de lidar com tais crises. Nesses momentos, frases como “É o povo pelo povo!” apontam na direção da ideia de estado mínimo. Voluntariado (e não serviços públicos), doações/caridade (e não impostos/redistribuição) surgem como soluções mágicas. A provocação que fica é: Tal postura resolve o problema, é o caminho que, entre outras coisas, garantirá reconstrução das casas e das vidas dos milhares de atingidos? 

Como outra solução óbvia, ouvimos os gritos em favor da razão, da ciência, da escuta aos especialistas. Sobre esse ponto, é interessante notar que, nos últimos anos, os advogados dessa visão parecem estar na mesma trincheira dos que defendem o respeito à tradição milenar dos povos originários. Certamente há pontos de contato entre essas duas visões, mas sobram muitas perguntas de difíceis respostas: Como conjugar ciência e espiritualidade? A ciência deixou de ser uma arma dos “poderosos” para impor suas visões de mundo?

Migrando da razão às emoções, não há dúvida de que a dor dos gaúchos produziu um gigantesco sentimento de solidariedade pelo Brasil (e somos muito gratos por isso). Mas também devemos nos preparar para o futuro próximo, para o momento em que deixaremos de ser manchete. Teremos força e união para recriar uma sociedade a fim de mitigar as mazelas sociais ainda mais escancaradas por esse desastre?

Michael Sandel, talvez o mais aclamado filósofo político da atualidade e nosso primeiro palestrante – no dia 15 de junho pela plataforma https://cursos.anpof.org.br/ – defende que só evoluiremos socialmente a partir de uma maior convivência, da existência de uma vida realmente comunitária. Que os fatos de termos levado comida, dado carinho, entrado nas casas, tocado naquela parcela da população normalmente esquecida tenham servido para furar as bolhas que nos separavam! Que esse espírito de comunidade emerja definitivamente e siga navegando pelas águas calmas da justiça social!

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