Juremir Machado da Silva

Mérito Cultural da PUCRS para Tony Ramos

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Mérito Cultural da PUCRS para Tony Ramos Reitor da PUCRS, Evilázio Teixeira, condecora Tony Ramos no palco com Denise Fraga/foto Juremir Machado da Silva

Ator global, um dos mais conhecidos do país, Tony Ramos está em cartaz em Porto Alegre, junto com Denise Fraga, no Salão de Atos da PUCRS, a mais confortável, ampla e elegante sala de espetáculos gaúchas da atualidade. A peça é “O que só sabemos juntos”, com direção de Luiz Vilaça. Um mergulho na vida de um homem e uma mulher, dois atores em conversa com o público.

Na quinta-feira, 3 de outubro, dia de comemorar a revolução gaúcha de 1930, Tony Ramos recebeu, depois do espetáculo, a medalha do Mérito Cultural da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Sucesso total. Casa cheia. Público entusiasmado e vibrante. Os atores circularam generosamente antes da peça em meio à plateia. Na cerimônia, o reitor da PUCRS, Evilázio Teixeira, exaltou a grande trajetória do artista e brincou:

– Afinal, o que só sabemos juntos?

Mérito Cultural PUCRS para Tony Ramos

Tony Ramos agradeceu destacando a sua emoção e o fato de estar recebendo a homenagem em seu local de trabalho, o palco, com as “roupas do meu ofício”. Simples, objetivo e tocante. Grande, Tony!

Uma crônica

 

Nunca duvidei: a vida é uma crônica. Fui trabalhar com uma dúvida na cabeça: assistir à peça de Tony Ramos ou a palestra de Kondzilla, ambas na PUCRS. O leitor poderá se surpreender: como assim? Tony Ramos todo mundo conhece. E Kondzilla? Ele é o criador da série da Netflix “Sintonia”, a mais vista produção do tipo, fora da língua inglesa, na América Latina, tem 66 milhões de seguidores em redes sociais e brilha na batida do funk. Chama-se Konrad Cunha Dantas e nasceu no Guarujá, em São Paulo. Os números dele impressionam.

Eu queria conhecer esse fenômeno ainda jovem, negro, coberto de glórias, que falaria antes da entrega do prêmio do belo Set Universitário da Indústria Criativa, organizado pela Famecos. Os horários batiam. Acabei por fazer minha escolha com uma blague:

– Sou da geração do Tony Ramos.

Na entrada do teatro, flanando no meio das pessoas pelo gosto de sentir a presença de quem ama cultura, ouvi uma voz que me chamava. Eu me perdi um pouco. Quem mesmo dizia meu nome? Uma mulher me sorria.

– Não está me reconhecendo, Juremir?

– Não, confesso que não estou. Decidi que nunca mais mentiria sobre reconhecer ou não as pessoas – respondi, sob o olhar sorridente da moça que acompanhava a que havia me chamado.

– Eu sou a Rosane Aubin.

Fiquei pasmo. Como eu não a tinha reconhecido? Ela era a musa da nossa turma de jornalismo, a grande paixão de meu amigo David Coimbra, a menina dos olhos verdes mais admirados da turma. Morávamos na Sarandi, ela na 21 de Abril, eu na Laudelino Freire. Pegávamos depois da aula o T4, o T1 e o Vila Elisabete. Perguntei sobre o seu tempo, 27 anos, em São Paulo, onde fez carreira competente de jornalista. Contou que voltou para Porto Alegre há oito anos. São Paulo, disse, tornou-se inabitável. Está aposentada e feliz de volta para casa. Não deu tempo de falar mais. Eu tinha de pegar os ingressos para mim e Cláudia.

Contei que havia ido ao Sarandi durante a enchente e lembrado dela. Ela andava sempre com a nossa colega Roseli, que eu achava linda e distante. Na verdade, eu era distante, assustado, talvez, como na música de Raul Seixas, lembrada, outro dia, por Mauro Borba, em nosso podcast Pensando Bem, por ser recém-chegado do interior “inocente, puro e besta”. Eu tinha encontrado Rosane Aubin uma vez, acho, numa dessas comemorações de tantos anos de formatura. Mas, na PUC, não.

Fiquei pensando uma coisa que não caberia dizer para não cometer pecado de nostalgia: estávamos por ali, tínhamos 18 anos e todos os delírio do mundo. Em seguida todos tomamos os nossos caminhos, ou eles nos tomaram na caminhada. Então estávamos de volta, 43 anos depois.

Entre esses dois momentos algo havia acontecido: uma vida.

Atrapalhado, esqueci de propor uma selfie.

 

 

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