Juremir Machado da Silva

Ilusões eleitorais

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Ilusões eleitorais Filas no Centro Municipal de Educação dos Trabalhadores Paulo Freire (CMET) | Foto: Roger Lerina/Matinal

A cada eleição as pessoas se entusiasmam: agora vai! Parece torcedor do Internacional sonhando com o título do Brasileirão. O último foi em 1979, quando a ditadura ainda mandava no país. Depois disso, só promessas e expectativas. Candidatos vendem soluções miraculosas e garantem que a salvação da humanidade depende da chegada deles ao poder. Se o outro for eleito, a barbárie devastará tudo. Depois, conquistada a vitória, as coisas começam a andar mais lentamente, surgem obstáculos, sempre os mesmos, mais do mesmo, negados em tempos de sedução eleitoral, a necessidade de obter governabilidade e outras engrenagens do gênero que fazem a alegria passar, a esperança morrer, a fé duvidar, o entusiasmo desandar. Assim mesmo.

Curioso é que a cada vez o fenômeno se repete. Claro que há os empedernidos: esses não entram mais no jogo. Outros, porém, compram novamente o discurso, a aposta, a retórica, enfim, e deixam-se embalar pela descrição de um novo mundo a ser construído em quatro anos. Pela metade do segundo ano de mandato, contudo, começa a lengalenga de que é pouco tempo, quando não ocorre, passados 90 dias da posse, a denúncia de uma herança maldita que impedirá de fazer o prometido antes de muitos anos.

Político é um jogo com três faces: interesse público, interesse dos partidos e lógica de carreira dos candidatos. O vereador quer ser prefeito ou deputado estadual; este quer ser governador ou deputado federal; o deputado federal planeja ser senador, governador ou presidente da república; o senador pensa em se eternizar nos mandatos; o presidente da república, por vezes, tenta ser ditador. O plano de carreira é vertical. Poucos são os que se moldam a uma dessas possibilidades e não pensam em mudar. O interesse público depende das estratégias dos partidos e das ambições dos candidatos. Um representante do povo é um gestor público que, muitas vezes, não sabe fazer outra coisa que não seja pedir votos.

Estou desiludido com a política e com os políticos? Não. Ao menos, não mais do que durante toda a minha vida. O Brasil melhorou com a volta de Lula em relação ao desatino que era com Jair Bolsonaro. A tensão diminuiu, os almoços de domingo voltaram à normalidade, a fábrica de barbaridades cuspidas no puxadinho do palácio da Alvorada encerrou as suas atividades, a vida ficou mais leve, embora sempre dura, o país está melhor em vários indicadores, como desemprego, trabalho infantil, aumento real do salário mínimo, redução da pobreza, tudo isso que a extrema direita não valoriza por não reverter em ganhos para os seus bolsos. Sem contar a posição da economia no cenário mundial, que voltou a ser a oitava entre todos.

Mesmo assim Lula deixou de lado muito do que sinalizou que faria. A reforma trabalhista imposta por Michel Temer continua intocada. É sabido que depois de o pior ter sido feito, pela direita ou pela esquerda, não há retorno. Um campo condena a aprovação da reforma da previdência, mas, chegado ao poder, não toca mais no assunto. O que já tomou remédio amargo, remediado está. A ouvir os políticos, eles só pensam no bem comum.

Alguns pensam mesmo. Outros… Uau!


As opiniões emitidas por colunistas não expressam necessariamente a posição editorial da Matinal.

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