Claudia Tajes
Claudia Tajes
Claudia Tajes

Barba ensopada de treta

Change Size Text
Barba ensopada de treta Foto: Reprodução/Instagram

Terminada a era dos profetas, monarcas, vikings e outros barbudos, o mundo se escanhoou e a barba foi parar na cara dos que viviam ou à margem da sociedade, ou dos revoltados de seu tempo. Nas famílias, esse papel sempre coube a um dos tios, aquele a quem todos os demais consideravam imprestável. Nada pior que uma barba por fazer ou, pior, uma barba crescida, desgrenhada, despenteada, talvez com algum resquício de sopa – na melhor das hipóteses.

Acho que foi dos anos 70 em diante que a barba saiu dos folículos pilosos para voltar à história. Mesmo no Woodstock de 1969 eram poucos os barbudos. Perigava a Janis Joplin ter mais barba que muitos dos astros do rock da época. Mas então ela veio forte, pilosa, hirsuta, e nunca mais saiu de cena.  

Para falar de pequenos dramas, hoje um dos maiores temores de um adolescente não é tomar bomba no vestibular, nem as dificuldades do mercado de trabalho, mas que não lhe nasça barba na cara. E dê-lhe esfregar tomate, cebola com mel, folhas de mostarda e qualquer outra receita milagrosa da internet para fazer os pelos brotarem. Isso lembra outro fenômeno desses dias, a criança de bigode. Rapazes muito jovens ainda trazem nos olhos a inocência da infância e, abaixo do nariz, um bem cultivado mustache. Uma moda comovente.

Todo esse arrazoado – alguns dirão, despropositado – para chegar àquela que nega toda uma saga contada com fios duros e crespos: a barba de extrema direita.

A barba de extrema-direita, aparadíssima, como que desenhada a nanquim, não deixa dúvida sobre a orientação política de quem a ostenta. Só nessa semana ela apareceu em duas tretas, a que um assessor do coach Pablo Marçal – que a ostenta – bateu no assessor do atual prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes – que a ostenta –, e na voz de prisão a Nivaldo Lima, aka Gusttavo. É um detalhe de nada, uma bobagem diante de tantos perigos que ameaçam a democracia. Mas um detalhe a se reparar nos candidatos que disputam o nosso voto na próxima eleição.

Barbinha rente, esculpida, nenhum fio fora do lugar, quiçá micropigmentada, é uma camisa da Seleção na cara. Eu não me arriscaria. Melhor cortar antes que seja tarde.

RELACIONADAS
;

Esqueceu sua senha?

ASSINE E GANHE UMA EDIÇÃO HISTÓRICA DA REVISTA PARÊNTESE.
ASSINE E GANHE UMA EDIÇÃO HISTÓRICA DA REVISTA PARÊNTESE.