Editorial | Revista Parêntese

Parêntese #248: Partido 

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Parêntese #248: Partido  Foto: ICL Notícias/Reprodução YouTube

O cenário político da cidade – e do estado e do país, em outra escala – foi marcado nesta semana pelo anúncio, feito num debate público, da Manuela D’Ávila, de que ela se desligou de seu partido. Uma filiação de 25 anos, ela lembrou. 

Era o PCdoB. Por ele, ela foi candidata à prefeitura, foi vereadora, foi deputada estadual e federal, foi candidata a vice-presidente do país (para o candidato a presidente Fernando Haddad). 

No pleito atual, ainda em curso, a Manuela foi sonhada por muitos como cabeça de uma chapa unificada de esquerda. Ela recusou, em nome de sua sanidade – o que essa mulher recebeu de ataque rebaixado não é pouco.

Esse anúncio de desfiliação (ela falou sobre o quanto pensou, o quanto pesou, o quanto sofreu essa separação) teve impacto. Não dá pra dizer que foi uma bomba, porque de fato não explodiu – foi mais como o som de baque surdo, um corpo que cai. 

A Manuela expõe com seu exemplo um tema de interesse geral, para todo mundo que pensa, à direita, ao centro e mais ainda à esquerda. Para a esquerda em especial, porque é nesse campo que a reflexão conceitual costuma ser obrigatória, que as leituras são meio que o ar que se respira. 

À direita, em regra, os conceitos políticos não têm relevo maior: o jogo é o dinheiro que circula em quantidades inimagináveis para gente comum, fundos partidários e coisas pelo estilo. Esse vezo financeiro é recoberto por um que outro conceito, em geral trivial, basicamente xingar a esquerda e defender valores tradicionais do conservadorismo. Na extrema direita o jogo é esse, mais a prática da agressão que vemos em atuação no bolsonarismo, no trumpismo e em outras desgraças contemporâneas. 

Do centro para a esquerda, meio que somos todos Manu: estamos sem saber o que fazer. A prática do trabalho de base, em organizações populares, baseado na perspectiva da conscientização e por aí afora, esse universo todo parece ter sido encaçapado pelo uberismo, pelo individualismo (inclusive aquele batizado em igrejas) e pela ética perversa das redes sociais. 

Tem aparecido cada vez mais nitidamente uma evidência desoladora: pobres têm preferido não o longo trabalho de tomada de consciência de classe, com vistas às antigas teses socializantes, mas um alento empreendedorista, com vistas a livrar a cara aqui e agora. 

O que fará a Manu, que em sua geração é talvez a mais forte liderança carismática da cidade e do estado? E o que faremos nós todos, não-filiados a nada mas desejosos de mais igualdade de oportunidades, menos desigualdade social, sempre interessados no combate aos preconceitos e na emancipação dos grupos sociais, em particular os mais oprimidos? Ainda se usa falar em oprimidos, aliás?

 

Luís Augusto Fischer

 


 

Nesta edição

Com as eleições em pauta, hoje trazemos alguns textos com reflexões necessárias sobre a política e os políticos. Guto Leite coloca Sebastião Melo ao lado de Pablo Marçal e questiona: se um homem trabalha mal, a gente deixa mesmo o homem trabalhar? Outra figura notória, Javier Milei, é abordada por José Roberto Iglesias em artigo sobre a desigualdade social e por Fernando Seffner, que relata a crescente insatisfação do povo argentino com o presidente eleito.  

Depois de mais de 10 edições e muitas histórias, chega ao fim a nossa sessão sobre os 200 anos da imigração germânica, com a parte final do texto de Jandiro Koch, que aborda a imigração gay-alemã no RS. No texto de hoje, a vida e obra do artista Ernesto Frederico Scheffel. Já na biografia musical de Porto Alegre, Arthur de Faria narra a história de Carlinhos Hartlieb. 

Também temos homenagens e lançamentos. Sofia Perseu escreve sobre o novo romance de Reginaldo Pujol Filho, Nosso corpo estranho, cuja sessão de autógrafos acontece hoje, às 16h, na livraria Clareira. Gabriel Gallina convida para um passeio atento aos detalhes urbanos de Porto Alegre – a pé ou por meio do seu livro Porto Alegre Gráfica,  que tem lançamento marcado dia 26/10, às 16h, na livraria Paralelo 30. E Helena Terra resenha o romance A Pediatra, de Andréa del Fuego. Marcelo Pires reverencia Washington Olivetto, enquanto Romar Rudolfo Beling escreve sobre Antonio Skármeta, ambos falecidos esta semana. Juremir Machado da Silva comenta sobre uma visita especial de ex-alunos da Faculdade de Comunicação Social da PUCRS.

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