Nossos Mortos

Signore Olivetto

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Signore Olivetto Foto: Miro/Divulgação

Trabalhei 13 anos com o Washington Olivetto em São Paulo – na W/Brasil. E mais 2 anos na W/McCann no Rio de Janeiro. O querido Luis Augusto Fischer me convida a escrever algumas linhas sobre este grande cara – que nos deixou no domingo, 13 de outubro de 2024. 

Histórias é que não faltam: a W/Brasil era um lugar leve, divertido, especialíssimo de trabalhar. E o W sempre foi o grande responsável por isso. Como escrevi no meu insta (dia 14): Washington gostava que a gente gostasse de viajar, de ler, de arte, de música, de comer e beber bem. Gostava de trabalhar e fazer festa. E sempre mostrou que é legal gostar do Brasil. O W gostava de gostar da vida. E eu gosto dele do fundo do meu coração. 

Vou tentar, a partir de um exemplo, mostrar como as coisas se desdobravam prodigiosamente naquela época. Benjor, este gênio, sempre foi grande amigo do Washington. No final de 1990, fez show exclusivo para os funcionários da agência. Inventou um refrão durante a festa/show: “alô, alô, W/Brasil”. Este refrão virou música e esta música grande sucesso no país. Ok – muita gente conhece esta história até aqui.

Quando Benjor ganhou o Prêmio Shell (em 1993), Washington ofereceu um jantar para pouquíssimas pessoas no Fasano – e fez questão de me convidar, ele sabia que sou apaixonado por música brasileira e, em especial, pelo Jorge. 

Presenciei, então, a seguinte cena: Washington comentou com um charmoso senhor italiano que atendia no restaurante que estávamos ali festejando um grande prêmio de Benjor. Este senhor falou com forte sotaque (italiano, claro): “prêmio… em que área?”. Música, respondeu o W. “Ah, scusa, eu só ouço ópera”. 

O simpático senhor italiano foi para a cozinha, nós ficamos rindo da situação. Daqui a pouco, o simpático senhor italiano volta da cozinha: “Signore Jorge, eu comentei na cozinha que o signore está aqui, que eu não conhecia o seu lavoro… e todos quiseram, bem, me matar”. No que Benjor se levantou e disse “então vamos lá”. Na cozinha, Jorge cantou, abraçou, deu autógrafos e voltou para a nossa mesa, transformando a noite em uma das melhores noites de todos nós.

E há um novo desdobramento na sequência: em 1995, quando Benjor foi o centro do programa Roda Viva da TV Cultura, Washington foi convidado para ser um dos entrevistadores. Na última hora, não pode ir. Em cima da hora, ele me chamou e disse: “vai você, Marcelo”. 

Eu não tinha me preparado, não tinha lido a pesquisa prévia que a TV Cultura costumava mandar, fui assim, no peito e na raça. Resultado: de novo, uma das melhores noites da minha vida. 

Trabalhei mais de 15 anos com o signore Olivetto. Não é fácil uma admiração resistir ao dia a dia depois de tanto tempo. Pois resistiu. Mais do que isso: aumentou. 

Como vão aumentar, agora, as saudades.

 


Marcelo Pires é publicitário, autor de Confissões de um pires (editora Bestiário), entre outros livros. 

 


As opiniões emitidas pelo autor não expressam necessariamente a posição editorial da Matinal.

 

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