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Joias urbanas

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Joias urbanas Foto: Gabriel Gallina

Há muitas maneiras de conhecer uma cidade, mas uma das mais fascinantes é por meio de suas miudezas — aqueles pequenos detalhes que só quem caminha com calma consegue notar. Quando desaceleramos, a cidade se revela lentamente, quase como se devolvesse um sorriso a quem lhe dedica um olhar. Para mim, é nesses fragmentos que a verdadeira identidade da cidade se esconde.

Desde cedo, frequentei o Centro Histórico de Porto Alegre. Meus pais trabalhavam por lá e fiz o Ensino Médio – o segundo grau, na época – no Colégio das Dores. Caminhando pelas suas ruas ao longo dos anos, meu olhar foi se fixando em detalhes que talvez outros deixassem passar: letreiros antigos, placas feitas à mão, calçadas desenhadas com padrões geométricos, ornamentos em fachadas esquecidas pelo tempo. Esses elementos sempre me pareceram chamar por atenção para contar histórias e resgatar memórias urbanas que, aos poucos, se perdiam.

 

Foto: Gabriel Gallina

 

Essa prática de observar se tornou uma rotina quase meditativa. Durante esses passeios, descobri o quanto uma cidade oferece a quem se permite observá-la de perto. O impacto visual desses elementos gráficos urbanos, muitas vezes criados intuitivamente por não-arquitetos e não-designers, reflete a riqueza da arte vernacular, aquela que surge espontaneamente nas ruas e revela uma camada que só quem vive a cidade percebe. O urbanista Jan Gehl, em Cidade para Pessoas, diz que só se conhece verdadeiramente uma cidade ao caminhar por ela. Concordo muito. É no caminhar que a cidade se exibe como um mosaico de pequenas narrativas visuais que, unidas, constroem significados que são únicos.

Mas veja, esses detalhes não se mostram de imediato. Eles exigem paciência e disposição para deixar que a rua dite o ritmo da conversa. Um olhar treinado ajuda. No meu caso, a formação em arquitetura e design aguçou a sensibilidade para perceber essas sutilezas de maneira mais organizada. No entanto, qualquer pessoa, com um pouco de curiosidade e atenção, pode começar a notar esses fragmentos urbanos.

 

Foto: Gabriel Gallina

 

Caminhar por Porto Alegre se tornou um garimpo contínuo desses tesouros visuais. Essa exploração levou ao desejo de compartilhar o que via, de organizar e apresentar essas pequenas joias urbanas para que outros também pudessem se encantar. Assim nasceu o projeto Porto Alegre Gráfica. A ideia era simples: capturar esses detalhes gráficos – textos, desenhos, texturas, padrões – e organizá-los de forma que as pessoas pudessem redescobrir o Centro Histórico sob uma nova ótica, aquela da pequena escala, do grão menor, do detalhe.

Me planejei para isso. Para começar, delimitei o perímetro do Centro Histórico e percorri cada rua, registrando o que me parecia digno de nota. Foram 33,8 km caminhados e 2.084 fotos tiradas ao longo de meses. Cada imagem representava um fragmento da cidade, um pedaço de sua história gráfica, muitas vezes escondida entre os edifícios. Após essa extensa coleta, começou o trabalho de seleção e organização.

 

Foto: Gabriel Gallina

 

O processo de criar o livro foi, por si só, uma jornada à parte. O objetivo não era apenas documentar, mas tecer uma narrativa visual, quase poética, que propusesse novas conexões entre esses fragmentos gráficos. A diagramação foi pensada para que cada página revelasse algo novo. Organizei as imagens por temas, mas sem seguir uma lógica rígida, permitindo que o leitor se surpreendesse com cada nova combinação. Queria que as conexões entre as fotos fossem fluidas, como uma conversa silenciosa entre os elementos gráficos da cidade. A ideia era mostrar que, ao caminhar, a cidade sussurra um enredo que une nomes, símbolos, ornamentos, letreiros e padrões de maneiras inesperadas.

Assim, Porto Alegre Gráfica se tornou mais do que um livro; virou um convite. Um convite para ver a cidade com novos olhos, desacelerar e deixar que o ordinário revele sua beleza extraordinária. Ao capturar e organizar esses detalhes gráficos urbanos, a obra chama o leitor a redescobrir Porto Alegre por meio dessa nova camada e a se encantar com o que, muitas vezes, está bem diante dos olhos, mas invisível na pressa do cotidiano. Para quem aceitar o convite, Porto Alegre – ou qualquer outra cidade – nunca mais será a mesma.

 


O livro Porto Alegre Gráfica é de autoria de Gabriel Gallina, foi editado pela Marcavisual e conta com prefácio assinado por Luís Augusto Fischer e posfácio de Airton Cattani. O lançamento acontecerá às 16 horas do dia 26 de outubro na Livraria Paralelo 30, que fica na Rua Vieira de Castro, 48, em Porto Alegre.

 


As opiniões emitidas pelo autor não expressam necessariamente a posição editorial da Matinal.

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