Editorial | Revista Parêntese

Parêntese #247: Meus votos 

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Parêntese #247: Meus votos 

Quantas vezes já perdi eleição? 

Minha primeira ida à urna ocorreu em 1976, eu com 18 anos estava votando para vereador em Porto Alegre. Meu voto foi para o Marcos Klassman, candidatura jovem do então MDB da resistência contra a ditadura. Voto em papel, com certificado de eleitor em papel, uns veinhos de bairro cuidando da urna, eu trabalhando de 2º. Mesário, algo assim. A contagem era feita na mesa. Um tempo estranho, visto de agora. 

Marcos Klassman foi eleito, com seus flamantes 23 anos – e foi cassado pela ditadura assim que fez seu primeiro discurso na tribuna, dias depois da posse. Solidário com ele, Glênio Peres fez discurso criticando a cassação do colega e igualmente foi cassado, sem pena. Era ainda o poder do maldito AI-5.

Evoco essa lonjura para dizer que fui derrotado agora, de alto a baixo. Meu candidato a vereador (Marcelo Sgarbossa) não entrou, e minha candidata a prefeita (Maria do Rosário) foi para o segundo turno por um triz, porque o candidato Sebastião Melo quase chegou aos 50% de votos válidos. 

Ao declarar esse voto, não me torno refém de ninguém, de nenhum partido – nem deixo de reconhecer os méritos de Melo. Ele tem, por exemplo, o mérito de ser um fazedor (o fim do Esqueletão é um bom exemplo de sua capacidade de desenterrar caveiras de burro com as quais nos acostumamos na cidade). Ele realmente conhece a cidade – outro mérito. Méritos de varejo.

Mas pesa mais, para mim, outro conjunto de fatores – questões de atacado. Claramente Melo está feliz com a patrola que empresários do ramo imobiliário estão passando sobre o patrimônio histórico e ambiental de Porto Alegre. Está feliz com a barbaridade que a prefeitura está fazendo com o tal quadrilátero central. Se sente confortável em não ter feito a manutenção e a reforma das comportas e das casas de bomba que vazaram água evitável para dentro da cidade – a chuva não foi ele que inventou, mas a negligência é da conta dele sim. Ele foi alertado especificamente por técnicos da prefeitura. 

(Nem preciso do argumento diretamente político, de que ele está acertado com reacionários abomináveis, que assinariam outro AI-5 hoje sem pestanejar.)

Rosário representa, para mim, uma chance de voltarmos a pensar a cidade a partir de parâmetros que considero mais adequados e justos. Se eu sou do tempo do voto no Marcos Klassman, sou igualmente do tempo em que lideranças do PT puseram a cidade numa rota positiva, de mais participação popular, mais esclarecimento, mais ecologia, mais justiça social, mais preservação do patrimônio histórico e ambiental. Lindos tempos, uma geração atrás.

O leitor e a leitora da Parêntese são adultos e saberão deliberar seu voto no segundo turno sem depender dessa minha declaração. E o atual prefeito deverá aprender que votar em outro candidato, que não ele, não me torna menos cidadão, nem me obriga a ser mero reprodutor de discurso alheio, ao contrário do que ele afirmou em momento infeliz de certo debate do primeiro turno. Desejo sinceramente que ele não repita a bobagem de considerar a Parêntese e a Matinal como incapazes de jornalismo sério e atitude crítica.

 

Luís Augusto Fischer 

 


Nesta edição 

A edição de hoje está permeada por livros. Luís Augusto Fischer conversou com Celso Gutfreind e Luiz Eduardo Achutti a respeito da obra Poema azul – Memórias do Estádio Olímpico, lançada no início deste ano. Também trazemos em primeira mão o prefácio de Jorge Rein para o livro de poemas Duas Caixas de Dinamite, de Julio Alves, que tem lançamento marcado para hoje, às 16h30, no Terezas Café. E Giselle Perna, conta sobre o seu livro, Oprimidas não, empoderadas!, que narra histórias de mulheres venezuelanas que imigraram para o Brasil. 

Trazemos também a segunda parte do texto de Jandiro Koch sobre a imigração gay-alemã no estado e o terceiro capítulo da história de Hermes Aquino, narrado por Arthur de Faria. Para fechar, as costumeiras crônicas: Alfredo Fedrizzi escreve sobre a relação (ou a falta dela) das crianças com a natureza, Demétrio Xavier reflete sobre o mito do gaúcho heróico e a realidade do campo a partir da figura do compositor argentino Atahualpa Yupanqui, e Juremir Machado da Silva compartilha sua leitura de Bambino a Roma, romance mais recente de Chico Buarque.  

 

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