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O que está em jogo nesta eleição?

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O que está em jogo nesta eleição? Montagem com recortes das campanhas eleitorais de cada candidato para a TV. Créditos: Poder360 | YouTube

Diante das eleições municipais que ocorreram este domingo, a pergunta foi feita para conhecidos e amigos, leitores da Parêntese e assinantes da Matinal. Recebemos mais de 60 respostas que compartilhamos a seguir. 

 

Depoimentos

Pedro César Dutra Fonseca, economista, professor da UFRGS

“A eleição em Porto Alegre ganhou uma dimensão local muito forte a partir da catástrofe climática e com a percepção de que não será a última vez. Os dirigentes municipais não podem ser apenas administradores das crises, mas devem ter uma perspectiva de longo prazo, uma estratégia para a cidade. Mas isso é difícil em todos os níveis de governo: os políticos pensam, sobretudo, já nas eleições vindouras e nem sempre o longo prazo é o mais popular. Todavia, não há um foco só, pois – queiramos ou não – as eleições municipais nas capitais sempre têm uma dimensão nacional. Num país dividido como o que vivemos esta é ainda mais relevante.”

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Miguel da Costa Franco, Engº Agrônomo, bancário aposentado, escritor e roteirista

“A centralidade da eleição está, para mim, na pauta ambiental e no enfrentamento da crise climática. Precisamos de representantes que sigam ao lado da ciência. Que não insistam no adensamento urbano, na impermeabilização dos solos, no aterro das várzeas, no descaso com o sistema de proteção a enchentes, a poluição do ar e da água e a destruição da cobertura vegetal. Que não deixem as periferias ao deus-dará. Que abandonem o engodo neoliberal da desregulamentação, do autolicenciamento, da terceirização de serviços essenciais do município (DMAE, DEP, SMAMUS e outros) e do culto excludente do Estado mínimo, que só favorece quem detém o poder econômico.”

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Cristina Bonorino, professora de Imunologia da UFCSPA

“No centro da eleição está um histórico e um comprometimento com preparar a cidade para um crescimento sustentável, capaz de suportar os desafios climáticos extremos que serão cada vez mais frequentes, engajando e preparando todos os setores da economia.”

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Gunter Axt, historiador

“A dinâmica de eleições repousa sobre equação que articula tempo de propaganda, bom plano de governo, partido estruturado, experiência política, experiência administrativa e carisma. Independentemente do mérito, o eleitor brasileiro vem testando combinações: Collor só tinha carisma; FHC só não tinha carisma; Lula 1 não tinha vivência administrativa; Dilma era fraca de carisma e não tinha traquejo político; Itamar e Temer não tinham carisma, mas fizeram governos estáveis; Bolsonaro só tinha carisma e, alguma, experiência política. As chances de eficácia e de estabilidade de um governo se ampliam quando a combinação mais se aproxima dos 100%. Instintivamente, o eleitor percebe e, quando inova, quando testa novos caminhos, com apostas mais arriscadas na troca da experiência administrativa e política pelo carisma, que eventualmente geram intranquilidade, a resposta nas eleições seguintes tende a ser mais sistêmica. Nos municípios, onde os problemas são cotidianos, reais, pode haver até mais pragmatismo. O eleitor de Porto Alegre parece abraçar ciclos, fidelizando projetos e mudando com cautela. A saída do regime militar foi com volta ao trabalhismo, interrompido em 1964. Em seguida, um passo mais à esquerda, com o PT, que durou 16 anos. Certa fadiga, que aparece mais cedo ou mais tarde, trouxe desejo por mudança, que Fogaça soube vocalizar na medida certa, ao garantir que preservaria o que estava bom e melhoraria o que precisava ajustar, trazendo o projeto para o centro. Outra guinada veio com Marchezan, com discurso de ruptura, mas sem experiência administrativa, partido menos estruturado no município e carisma controverso, gerando um governo conflitivo. Melo, então, venceu, aplicando o tom sinalizado por Fogaça, ajustado ao liberalismo e, depois, à centro-direita, como que atualizando o espírito do velho Meneghetti. A terrível enchente embaralhou o cenário, mas o eleitor de Porto Alegre, creio, tenderia a uma resposta sistêmica, minimizando incertezas futuras diante da necessidade de reconstrução, depois da catástrofe. A chance de inovação, nesse quadro, cresceria com arco de apoio amplo, da esquerda à centro-direita, ou da direita à centro-esquerda, carisma vibrante e discurso propositivo, bem como respeitoso para com o antecessor, reconhecendo o que deu certo, sugerindo melhorar o que porventura não tenha ido bem. As pessoas gostam de sonhos, se possível, com experiência, e rejeitam a pancadaria com foco no espelho retrovisor. Talvez isso valha tanto mais depois de uma tragédia climática.”

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Gustavo de Mello, assessor jurídico

“Desde 2004 sou derrotado. Na eleição de 2016 decidi que anular o voto, no segundo turno, era o caminho para evitar os claro-escuros na vida institucional brasileira. Sem me confundir, sem patrocinar um novo fenômeno eleitoral, uma direita que havia emergido na cena pública nacional. Os antecedentes estavam no antipetismo gaúcho, os laços eleitorais de indivíduos que se alimentavam do ódio no país estavam em ascensão. Assistimos à decadência da Lei de Segurança Nacional, em uma transição conservadora, muito mal negociada na esfera da punição dos crimes contra a humanidade da Ditadura.
Nem nos passava pela cabeça que seríamos dramaticamente ameaçados com um retrocesso que, se fosse um pouquinho mais longe, poderia terminar com a eliminação física e o banimento de brasileiros, valendo-se de perseguições e eliminação física. Além do assassinato político de Marielle Franco, havia uma reprise de mau gosto dos hábitos e costumes de uma ditadura. Os processos foram legitimando com o voto a ascensão eleitoral de uma Nova Direita, nascida e embalada na cozinha dos ideólogos do PDS (partido que se recriou de muitas formas).
No Sarau Elétrico “E Se Fosse Contigo?”, vi e ouvi afirmações e ideias que me permitem, agora, sintetizar as razões do meu voto, em 2024: a necessidade de construir símbolos de humanidade para serem incorporados ao dia a dia da Administração Pública, mas reafirmados por agentes políticos de esquerda. Dentro desta tradição há necessidade de repassar, criticamente, o que fizemos. As lições do ambiente da Vila Planetário, construído na alegoria de Os Supridores (José Falero), ajuda a entender melhor o capitalismo na cidade e um novo debate sobre nosso sistema de segurança pública, no país. Meu voto é contra os milicianos que se escondem com o olavismo nos partidos de direita (narcotráfico). Principal é ajudar, com meu voto, a promover o fortalecimento político das mulheres com programas de combate à desigualdade social.”

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Fernando Seffner, professor na Faculdade de Educação da UFRGS

“É o cuidado do meio ambiente o tema central nas eleições em Porto Alegre. Mas devemos ver a coisa numa perspectiva dos povos originários, onde “pessoas” não estão separadas de “meio ambiente”, e muito menos simplesmente “habitam” o meio ambiente. O meio ambiente é o que normalmente se chama de “a cidade” no discurso eleitoral. A cidade deve progredir, progresso é sinônimo de mais e mais prédios – mesmo que os recenseamentos mostrem a população da cidade diminuindo a cada ano. Mais prédios é mais cimento e menos árvores. Está aí uma visão acerca do tema central das eleições. Grande número de apartamentos nestes prédios fica vazio por anos, e até mesmo prédios inteiros ficam vazios por anos. Do outro lado da equação, muita gente ou não tem casa desde muito tempo, ou a perdeu nas enchentes. Mas não pode habitar tais apartamentos vazios. É de modos de cuidar “a cidade” que se trata. A cidade é patrimônio de todos e todas que nela moram, que devem ter igual peso político na hora da tomada de decisões.
Isto leva à proposição de políticas públicas como o orçamento participativo e outros modos de consulta. Temos aí um sentido educativo de que quem mora na cidade e toma as decisões acerca da cidade desenvolve responsabilidade para com ela. Há aí certa visão pedagógica de como se constrói o cuidado com a cidade. Ou então se diz que as decisões acerca da cidade devem estar a cargo, ou devem escutar preferencialmente, empresários, construtoras, executivos de grandes grupos, que “trazem” o progresso para a cidade, embora geralmente nela não habitem. No limite, e este é para mim o núcleo do tema central das eleições, a disputa se dá entre uma cidade para consumidores e consumidoras, ou uma cidade para cidadãos e cidadãs. Uma cidade que se rege pelos valores da coisa pública, ou uma cidade que se rege pelos valores do mercado.”

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Luciano Fedozzi, professor de Sociologia da UFRGS

“Porto Alegre vai decidir se quer ou não virar a página do pesadelo triplamente negacionista: negação da participação popular na democracia; negação do papel dos governos para tornar a cidade mais justa e menos instrumentalizada pelo capital imobiliário; e negação da ciência e da verdade ao abraçar as forças fanáticas de extrema direita que destruíram o país.”

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Cristiano Fretta, professor e escritor

“É sempre um tanto quanto óbvio afirmar que qualquer eleição é importante. Por certo, nenhum pleito, na instância que seja, deixa de carregar consigo fortes cargas ideológicas que vêm à superfície por meio de políticas públicas dos agentes eleitos. No entanto, em alguns contextos as eleições podem estar localizadas em algum momento nevrálgico da história de alguma cidade, estado ou país. É o que está acontecendo no caso de Porto Alegre. A cidade, que há não tantos anos ostentava a realização de eventos como o Fórum Social Mundial e títulos como a capital mais arborizada do país, hoje precisa escolher qual campo ideológico irá guiá-la: a esquerda autointitulada progressista ou uma administração neoliberal de cunho nitidamente conservador. Tudo isso em um ano marcado pela maior tragédia climática da história de nosso estado, que, apesar de toda dor que causou aos gaúchos e à incrível onda de solidariedade que a partir dela nasceu, não foi capaz de gerar uma superação entre as duas principais forças ideológicas que há uma década, mais ou menos, vêm moldando a política brasileira: de um lado, um imenso e diverso campo democrático progressista; de outro, um reacionarismo que flerta com a derrocada do Estado Democrático de Direito. Dessa forma, a atual eleição em Porto Alegre continua antagonizando essas forças. O que está em jogo, no final das contas, não é a defesa de uma democracia teórica com implicações práticas de médio ou longo prazo, mas sim a democracia do dia a dia, ou seja, a democracia de bairro e ruas, aquela que nós conseguimos observar no nosso mais prosaico cotidiano e que deve estar presente em todos os cantos de Porto Alegre. O que está no centro da atual eleição é o povo e que tipos de relações ele poderá estabelecer com a cidade de Porto Alegre.”

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Théo Amon, tradutor

“O exercício do direito de voto é também o exercício da capacidade de se colocar no lugar dos outros, esforçar-se para enxergar o desagradável óbvio ululante: que o bem comum pode, às vezes, ser temporariamente o mal para a própria pessoa, classe social, categoria profissional etc. Afinal, o mundo (ou, mais direto ao ponto: a cidade) é bem maior do que os nossos olhos e hábitos alcançam, e um ente político é necessariamente heterogêneo na sua composição. Portanto, o bolo precisa ser cortado de jeitos diferentes conforme o tempo vai passando. A diversificação dos investimentos – em sentido muito amplo, e não só financeiro: também psicológico, comportamental, estético, simbólico, lógico – é uma máxima da boa saúde, como qualquer terapeuta, médico ou consultor financeiro confirmará. Repetindo-se fórmulas, repetem-se os resultados. ‘Tanto vai o cântaro à fonte que um dia quebra’, diz um ditado. Bem, talvez se variar o caminho ele não quebre tão cedo.”

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Gilberto Perin, fotógrafo, roteirista, diretor de cena

“Dói saber que as propostas e sonhos dos anos 1970-80-90 não sobreviveram. Avançamos, sim, mas não estamos nem perto da utopia de uma vida comunitária e colaborativa. Sei que hoje são imprescindíveis os grandes projetos a médio e longo prazo, por exemplo salvar a cidade da tragédia climática mundial ou que todos tenham uma vida digna com o mínimo de condições de emprego, saúde e segurança.
Mas não tenho esperança que a minha geração vá ver isso. Se conseguíssemos uma regra mínima de convivência social, eu já ficaria feliz. Se os pequenos problemas do cotidiano fossem resolvidos, como o sonho de caminhar pelas calçadas, sem desviar de carros, patinetes, bicicletas, mesas com cadeiras ocupando o espaço de pedestres, lajotas soltas, degraus inesperados. Isso se todos tivessem calçadas em frente à sua casa… É claro que os grandes e importantes projetos deveriam andar em paralelo.
Mas a educação é um bom caminho pra formar cidadãos mais solidários em detalhes bem pequenos como um ‘bom dia’ ou ‘obrigado’. Seria um bom começo para que a gente, civilizadamente, chegue até ao momento de enfrentar os gravíssimos problemas de Porto Alegre.
(Ah, antes ser acusado de sonhador – ou cancelado – lembro que isso deu e continua dando certo em alguns lugares do mundo. E aqui estivemos bem perto de começar um movimento nesse sentido, onde um outro mundo seria possível.)”

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Mauro Castro, taxista e cronista, autor da série Taxitramas

“A questão é gestão viária. Investimento em engenharia de tráfego. Emprego de tecnologia: sincronia de sinais (que foi implementada, não lembro o governo, e já não existe mais), contagem de veículos em tempo real. Mais que obras físicas, GESTÃO. Novos binários, priorizar faixas exclusivas de ônibus (Marchezan criou as faixas azuis em grandes avenidas, mas estão se apagando e ninguém respeita mais), cobrar contrapartida de plataformas de transporte (Nova York faz isso). A solução dos corredores de ônibus foi implantada pela metade, os terminais (Triângulo, Antônio de Carvalho) não exercem a função para a qual foram criados. Enfim, o que parece é que não temos um setor que cuide da mobilidade.”

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Lucio Carvalho, escritor e bibliotecário

“Viver numa cidade, num lugar específico, implica pensar este mesmo lugar, quer dizer, pensar ao vivê-lo. Pensar e senti-la. Venho fazendo isso desde 1988, quando me fiz adotar por Porto Alegre. Na época, a cidade mantinha uma dinâmica urbana bem mais amigável ao pedestre do que agora. Mas, desde lá, ‘voltar a pé do centro’, como diz a canção de Nelson Coelho de Castro, vai fazendo cada vez menos parte da minha rotina. Já não se vive tanto o Centro, hoje um lugar úmido, entristecido — e um pouco da sua melancolia acaba extravasando pela cidade inteira, suas imagens e novas memórias. Mas ao descer o viaduto Loureiro da Silva rumo à João Pessoa, é impossível não nos sentirmos como se na ‘jugular’ da cidade. Para dentro, o Centro Histórico, o velho Centro. Para o lado de fora, o parque da Redenção e as ramificações de uma cidade amuralhada pela Aberta dos Morros e vazada pelo sangradouro do Arroio Dilúvio. Se tudo correr bem com este texto, estamos a um dia de mais uma eleição municipal. Não é mais a Porto Alegre que encontrei em 1988, e que colocou no mapa nacional ‘o modo petista de governar’ com a eleição de Olívio Dutra, em 1989, e tudo o que veio em sequência. É a Porto Alegre impactada por diversas formas de governança e, neste ano, por uma enchente que a encontrou colapsada frente ao desafio climático, que não parece que suavizará sua pressão sobre a cidade. Além disso, as pequenas dificuldades do dia a dia da população, suas pequenas calamidades, ainda estão por serem enfrentadas com a consideração que as pessoas merecem, porque esse é maior sentido do seu governo. Pensar a cidade como o lugar de proteção das pessoas, de abrigo, não é a maneira mais ‘política’ de pensar a cidade, mas, sem pensá-la dessa forma, deixamos de notar o quanto precisamos e também devemos a ela.”

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Marcello Campos, jornalista e pesquisador

“Para mim, no foco desta eleição está na decisão sobre qual cidade queremos diante do agravamento dos efeitos do clima, da especulação imobiliária e do descaso com a preservação da memória.”

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Celso Gutfreind, psicanalista e escritor

“Há muitas formas de achar um eixo principal esperado para a plataforma do candidato. Neste momento de planeta ameaçado, a questão ambiental se impõe, o que já exclui aquele que não reconhece o quanto a ignorou. Aqui está, a meu ver, a questão central para a cidade e o mundo.”

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Manoel Luiz Varela, médico

“Para mim o ponto central é a adaptação da cidade para as novas mudanças climáticas, impactando aa segurança e a saúde da população.”

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Guto Leite, escritor e professor de Literatura na UFRGS

“Pra mim, o que está no centro da atual eleição é ‘a quem pertence Porto Alegre’. Se Porto Alegre é de sua população, de diferentes bairros, regiões, origens, inclinações políticas, práticas cotidianas, costumes. Ou se Porto Alegre pertence à iniciativa privada, aos donos de construtoras, de supermercados, de farmácias e de emissoras de TV. Saber isso me parece decisivo pra entender como a cidade vai enfrentar as mudanças climáticas em curso.”

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Luzimar Stricher, cineasta

“Voto sempre em candidatos de esquerda. Não admiro tanto a Maria do Rosário como gosto do Olívio e Tarso Genro. Mas com Lula no poder será de grande valia termos Maria do Rosário aqui. Melo foi o pior dos piores como Prefeito. Precisei da prefeitura várias vezes este ano e nunca obtive sucesso. Nem para podar árvores gigantes com risco de cair na minha casa. Fiscalização na gestão Melo não funciona.”

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Sandra La Porta, produtora cultural

“Para mim, o centro dessas eleições deve ser a retomada da cidade como um espaço mais inclusivo e sustentável. Isso passa por garantir transparência nas decisões e investimentos, promovendo um uso responsável dos recursos públicos. Além disso, é essencial a recuperação dos espaços culturais, que são vitais para nossa identidade, e assegurar uma educação de qualidade para todos. Só assim poderemos avançar em direção a uma cidade mais justa, próspera e preparada para o futuro.”

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Vitor Ortiz, produtor cultural

“Pontos centrais para definir o meu voto, nesta ordem de prioridade:
1 – a defesa de democracia e das instituições;
2 – o posicionamento frente às mudanças climáticas e à questão da sustentabilidade;
3 – a questão dos direitos, em especial da renda dos trabalhadores (sua preservação e recuperação) e da cidadania (da participação, do resgate do que é público, da universalidade do direito à educação, do acesso à cultura, entre outros);
4 – o respeito e a valorização da pluralidade e da diversidade.”

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Luiz Coronel, publicitário e escritor

“A elevação de fatigadas esperanças sobre os escombros da classe política. Uma rotina burocrática fantasiada de democracia!”

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Frederico Duarte Bartz, historiador

“Para mim a questão central é o direito à cidade; a possibilidade das pessoas que moram em Porto Alegre, especialmente o povo trabalhador, interferir no futuro e escolher os destinos para onde vai a capital do Rio Grande do Sul. A partir disso se desdobram outras questões, como o direito à uma moradia digna, a um serviço público de qualidade, à preservação da memória do lugar onde vivemos e ao cuidado com o meio ambiente.”

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Márcia Barbosa, professora de Física e atual reitora da UFRGS

“Como preparar nossa cidade e as pessoas nela para os distintos impactos das mudanças climáticas. É uma questão na qual as pessoas estão no centro da resposta.”

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Leonardo Antunes, professor de Grego na UFRGS, poeta

“A meu ver, o ponto central desta eleição é o de um projeto de cidade, com tudo o que há implícito nisso: como organizar o espaço público para que ele seja um cenário favorável à vida, e não um constante obstáculo; como oferecer os serviços fundamentais para a vida e para o convívio humano; como planejar as interações entre o público e o privado para que sejam um bem para todos e não para poucos. Tudo isso passa por um projeto claro e bem-definido de cidade.”

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Ingrid Schneider, socióloga

“Em Porto Alegre, o centro da campanha está (ou deveria estar) na compreensão das causas da tragédia climática que se abateu sobre nós e suas consequências. O descaso absoluto do poder público com a proteção dos cidadãos frente ao já desenhado provável desastre revela a negação do cuidado com a coisa pública e sua contrapartida, que é a submissão do governo local aos interesses dos grandes projetos privados imobiliários.”

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Luiz A T Grassi, Engenheiro Civil, membro do Conselho Técnico Consultivo do Sindicato dos Engenheiros do RS

“Considero como questão mais importante o planejamento urbano, ou seja, a retomada do Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano e Ambiental, para que retome a cidade para os cidadãos e interrompa sua entrega para domínio privado.”

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Marta Orofino, Terapeuta Ocupacional no Grupo Hospitalar Conceição

“O que está no meu centro da atual eleição? Pergunta complexa pra responder, pra quem anda um tanto desanimada – ou desacorçoada, como definia a minha mãe. Lembrei agora do final do “Cidades Invisíveis”, onde o Marco Polo apresenta duas possibilidades de não sofrer. Isso porque sinto que ando lutando pra não cair na primeira – a de aceitar e se tornar parte do inferno até o ponto de nem perceber. Em geral, em épocas de eleição eu tiro os fones dos ouvidos e ajusto o meu radar para escutar melhor as conversas no ônibus, na manicure, na padaria… E tenho escutado muita gente confirmar que vai reeleger a lama que fede a merda. Nessas horas, dá um desânimo… Mas aí lembro da segunda possibilidade do Marco Polo: saber reconhecer quem e o quê, no meio do inferno, não é inferno, e abrir espaço, e ajudar outros também a perceberem. Como trabalhadora do e no SUS, que acredita e aposta neste sistema, um dos pontos centrais pra mim é reconhecer quem não é inferno – quem quer abrir novos espaços e possibilidades para atender a complexidade que é cuidar com responsabilidade da cidade e das pessoas que vivem na nossa cidade. Após tempos de pandemia e restrição orçamentária dos últimos anos (e em nosso caso específico, de desastrosa calamidade), estamos em uma conjuntura nacional favorável, que aposta no fortalecimento da Atenção Primária como a melhor estratégia para diminuição de barreiras de acesso ao sistema de saúde e para a longitudinalidade do cuidado. O empenho em garantir processos de trabalho em saúde continuados e multiprofissional, a representatividade social e ações mais sustentáveis para a cidade não vão nos levar ao paraíso, mas podem tirar não só nossos pés e casas, mas também a alma da lama.”

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Luiz Antonio de Assis Brasil, escritor e professor da PUC

“No centro das discussões desta eleição está a inércia dos que ainda não sabem se votam, e, se votam, em qual projeto, como se os projetos não tivessem qualquer importância. Chegamos a esse ponto de destruição da consciência política. Isso é mais grave do que se pensa, pois é a desagregação do pensamento democrático, abrindo espaços para os insensatos e perigosos.”

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Núbia Silveira, jornalista

“Minha maior preocupação nas eleições 2024 é impedir o crescimento de bolsonaristas, negacionistas e extrema-direita. Só assim a cidade e seus cidadãos e cidadãs serão protegidos, e voltaremos a ter uma cidade verde, com ruas e parques bem cuidados, educação e saúde de qualidade. Acho importante derrotar os conservadores, também, para que os progressistas se preparem desde já para vencer as eleições de 2026. As municipais vão indicar os caminhos para a futura escolha de presidente, dois senadores, governador, deputados federais e estaduais. Temos a obrigação de mudar a composição do Congresso. Ou sofreremos com um estado autoritário.”

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Elisa Henkin, editora

“Pra mim, o que está no centro da eleição é o enfrentamento da questão climática e suas consequências para a cidade; e também a recuperação da cidade (cidade mal cuidada) e da cidadania (o cidadão não é prioritário em vários aspectos).”

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Sergio Faraco, escritor

“Penso que nesta eleição a grande questão é o projeto de cada candidato para a retomada da normalidade no dia a dia de nossa capital, incluindo nessa multiplicidade de ações o enfrentamento do déficit habitacional derivado da catástrofe do primeiro semestre e a recuperação e o aumento das defesas da cidade contra o transbordamento do Guaíba.”

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Cristiano Goldschmidt, jornalista

“Cheguei em Porto Alegre no início de 2001, e aqui me estabeleci. Peguei um período de efervescência cultural que perdurou por alguns anos, com destaques para o Fórum Social Mundial e edições inesquecíveis do Porto Alegre em Cena e da Bienal do Mercosul, oportunidades em que os olhos do Brasil e do mundo se voltavam para a nossa cidade, como referência em muitas áreas, incluindo ainda a ambiental e a experiência do Orçamento Participativo. Isso sem falar na qualidade do transporte público. Lamentavelmente, aos poucos a cidade foi perdendo o seu brilho, os eventos que antes nos colocavam no mapa mundial, atraindo gente de todos os lados, foram sendo apequenados ou deixados de lado. Diante disto tudo, penso que a questão central da atual eleição diz respeito a uma retomada de conquistas coletivas, onde o povo e a cultura voltem a ser protagonistas, com um olhar plural e diverso para as várias questões que afetam a vida de quem aqui reside, perpassando a necessária atenção à educação e à saúde. Por isso, além de pensar muito em quem voltar para prefeito, é preciso estarmos bastante atentos aos candidatos a vereadores e vereadoras, pois muitas vezes são eles que vetam projetos de interesse da coletividade.”

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Alfredo Fedrizzi, jornalista

“Pra mim, o que está em jogo é a recuperação de uma agenda progressista e voltada para as pessoas (e não para favorecer interesses de determinadas empresas). A modernização da cidade, onde está incluída uma forte agenda ambiental.”

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Vicente Rauber, Engenheiro e Gestor de Empresas

“Luto para que nossas prefeituras valorizem o transporte coletivo, com a introdução de veículos elétricos, e que pratiquem com toda intensidade o Saneamento Ambiental. O Meio Ambiente, a Saúde, a Educação e o Desenvolvimento Econômico agradecerão profundamente. E o planeta também!”

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Cícero Dias, professor de Microbiologia da UFCSPA

“A cidade tem grandes problemas de infraestrutura e os eventos da enchente deixaram isto muito claro. A cidade tem crescido desordenada, movida pela especulação imobiliária, que acaba na desigualdade social. O meio ambiente tem sido uma preocupação menor para as administrações, e a cidade tem ainda da uma bela área intocada. Se as incorporadoras colocarem as mãos em áreas verdes, e não falo apenas das áreas de preservação, teremos grandes perdas. Me ocorre o que vimos ao redor da terceira perimetral, junto ao Jardim Botânico. Preservação e aumento das áreas verdes, então.”

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Tatiana Kuplich, Tecnologista do INPE

“Sonho com um governo municipal que comece a reverter a desigualdade social e ambiental em Porto Alegre. Um governo capaz de olhar para as periferias, de equipar a cidade com serviços que respeitem o meio ambiente, de proteger os parques e sistemas hídricos, de lutar pelo bem estar da população, sem demagogia, sem superfaturamento, com empatia e honestidade.”

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Carlos Edler, fotógrafo

“Meu voto sempre foi e será novamente definido pelo candidato com um programa voltado para a educação pública e gratuita.”

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Rodrigo Ghiringhelli de Azevedo, jurista, sociólogo e professor da PUCRS

“Porto Alegre, outrora reconhecida globalmente como uma cidade inovadora e referência em participação popular na gestão pública, perdeu o protagonismo nas últimas administrações municipais. A falta de inovação e a ausência de renovação das agendas urbanas têm deixado a cidade sem respostas adequadas para os desafios contemporâneos e futuros. Esta eleição municipal representa uma oportunidade crucial para reverter esse cenário. É o momento de atualizar as pautas da gestão pública, garantindo maior controle social sobre a administração e os interesses privados, além de priorizar políticas públicas que respondam verdadeiramente às necessidades da população. Na área da segurança pública, que é o meu campo de pesquisa, as iniciativas mais promissoras no Brasil têm emergido justamente a partir das políticas municipais. Essas iniciativas destacam-se por sua abordagem preventiva e pela atuação do município como um ator central na articulação com outras esferas de governo, promovendo ações integradas. Em cidades que obtiveram sucesso na redução da violência, as guardas municipais passaram por reformas significativas, adotando um papel mais preventivo e proativo. Elas passaram a atuar na mediação de conflitos e a garantir um policiamento ostensivo, mas também de proximidade, estabelecendo uma relação de confiança com a comunidade. Porto Alegre precisa de uma gestão que esteja aberta à inovação, tanto na segurança pública quanto em outras áreas essenciais. A renovação é necessária para que a cidade volte a ser referência, com políticas públicas que dialoguem com os desafios de hoje e do futuro.”

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Álvaro Magalhães, sociólogo, gestor público federal aposentado

“O ponto que mais me preocupa é a vulnerabilidade de Porto Alegre e municípios da região em relação a cheias e chuvas intensas. De um modo mais geral, gostaria de ver questionado e revertido um modelo neoliberal de gestão da cidade, completamente submissa aos capitais imobiliários e com enfraquecimento sistemático das capacidades de manter e qualificar a infraestrutura urbana. O atual debate eleitoral me frustra em ambos aspectos.”

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Carlos Gerbase, cineasta e escritor

“O futuro de Porto Alegre – sua constituição física e as relações sociais e culturais entre suas diferentes áreas – hoje está nas mãos de interesses privados. É hora de retomar o protagonismo da maioria da população, elegendo candidatos comprometidos com o bem público e com a conservação de nossos patrimônios naturais e históricos. Porto Alegre não pode ser uma nova Camboriú. Ou mudamos o rumo, ou seguiremos rumo à completa dissolução do pouco que nos resta da alegria de viver em comunidade.”

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Graça Craidy, artista visual

“A eleição 2024 para a Prefeitura de Porto Alegre é um divisor de águas, literalmente, entre má gestão e seriedade administrativa, entre um governo voltado para os ricos e um governo voltado para todos os outros, entre querer que o Parque Redenção dê lucro e desejar que o Parque garanta saúde física e mental. Um divisor entre bolsonarismo ivermectina e um antifascismo ecossaúde que planta, previne e protege. Enfim, entre um governo summittiano de esgotamento e consumo e um governo que sabe que precisa urgente adiar o fim do futuro enquanto é tempo.”

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Nei Lisboa, músico

“No centro da eleição, está a mentira, eu diria, ainda que não seja uma escolha muito valorosa ou profunda. Ocorre que o engodo eleitoreiro tradicional e a eufemística fake news, vivos e ativos como nunca, estão também sob um olhar atento e um escrutínio social diferenciado de outras eleições. Ou será que não? Eu quero crer que alguns espantalhos do lavajatismo e da era bolsonara cairão fora da urna no domingo que vem, para o bem de todos. Oxalá não esteja mentindo para mim mesmo.”

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Lucia Mury Scalco, antropóloga, presidente do Coletivo Autônomo Morro da Cruz

“No centro da atual eleição, o que mais se destaca para mim é a ascensão das igrejas pentecostais e evangélicas como um ator político cada vez mais influente. A partir da minha experiência acadêmica e comunitária no Morro da Cruz, percebo o apelo crescente dessas instituições entre a população local. A mensagem de um ‘cristão consciente’ e ‘cidadão inteligente’ tem ganhado força, oferecendo uma alternativa à velha política marcada pelo “toma lá, dá cá” — a tradicional transferência de votos baseada em promessas vazias e soluções ilusórias. Esse novo voto cristão, incentivado pelas igrejas, chega embalado em uma ideologia que combina empreendedorismo, civilidade e meritocracia, promovendo a ideia de não depender do governo. Essa nova estética política dialoga com um espírito de autossuficiência e responsabilidade individual, algo que ressoa profundamente entre os moradores, especialmente após as enchentes recentes, que deixaram as pessoas desmotivadas e cansadas da política tradicional. O que mais me surpreende — e até incomoda — é a forma aberta e sem reservas com que as igrejas pentecostais têm entrado na política. O movimento, que começou com a disputa por espaços nos conselhos municipais e tutelares, agora se expande para as eleições gerais, tornando-se um elemento central e definidor neste pleito.”

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Horacio Dottori, astrofísico, professor emérito da UFRGS

“O crescimento populacional e o consumo excessivo, especialmente pelos mais ricos, aceleram a demanda por energia, levando ao esgotamento de combustíveis fósseis contribuindo para as mudanças climáticas. Estas, por sua vez, agravam problemas como a destruição de habitats, a perda de biodiversidade e a escassez de água, aumentando a pressão sobre as sociedades. Além disso, a desigualdade econômica e política intensifica os conflitos sociais, dificultando a resolução de questões ambientais à medida que surgem disputas por recursos. Esses desafios, conforme descritos por Jared Diamond em ‘Collapse: How Societies Choose to Fail or Survive’, estão interligados e ameaçam o futuro da sociedade global. É nesse contexto que coloco a questão ambiental como o tema central desta eleição — e que deveria ter estado em todas as eleições desde a Rio 92. Nada se fez tão presente em nosso cotidiano ao longo de 2024. Todos, salvo raras exceções, continuamos agindo como se tudo fosse um improviso ou uma ‘FATALIDADE’ — essa palavra nefasta que sintetiza interesses obscuros, alienação premeditada e ignorância abjeta. Precisamos integrar cientistas do clima e do meio ambiente nos conselhos e organismos de decisão. A síntese dos principais problemas da sociedade global proposta por J. Diamond demonstra, sob qualquer parâmetro, que, sem uma ação coordenada, seguimos em alta velocidade rumo ao colapso.”

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Valesca de Assis, professora e escritora

“Para mim, o ponto central seria a reabilitação do ORÇAMENTO PARTICIPATIVO, instituto que considero da importância do Método Paulo Freire de Alfabetização: o oprimido vive a situação de ter direitos (não só deveres) e de poder escolher prioridades tendo em vista a sua comunidade. O então CIDADÃO vai passar, atendidas as necessidades primeiras, a exigir educação, arte, saúde, trabalho digno.”

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Demétrio Xavier, músico, condutor do programa Cantos do sul da terra

“‘O lugar onde fica uma grande cidade não é o lugar de cais extensos, docas, manufaturas, depósitos de produção apenas (…) Nem o lugar dos edifícios mais altos e mais caros ou de lojas vendendo mercadorias do resto da terra. Nem o lugar das melhores bibliotecas e escolas, nem o lugar onde o dinheiro é mais abundante, Nem o lugar da mais numerosa população.’ É Walt Whitman, com simplicidade de clássico, encaminhando-se a dizer o que interessa: a grande cidade é a da equidade, da solidariedade, da isonomia, da inclusão, do planejamento com ênfase na correção do injusto, da participação cidadã. Reencontrar essa Grande Cidade é o que está no centro desta eleição.”

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Paulo Coimbra Guedes, professor aposentado da UFRGS

“Eu acho que, lá no começo dos anos Oitenta, quando aquele líder sindical disse que o Brasil estava precisando de um Partido dos Trabalhadores, ele estava candidatando, como centro de todas as eleições que estavam por vir, a abolição de todas as escravaturas. Não estou dizendo que era nisso que ele estava pensando; acho que a preciosa e rara intuição dele estava botando o trabalho como a atividade que poderia promover uma identificação de interesses comuns facilmente identificável entre a imensa maioria do povo brasileiro. Nós, que trabalhamos, temos interesses diferentes do interesse dos que exploram o nosso trabalho para viverem melhor do que nós. Eu fui um dos tantos que acharam, naquele momento, que esse partido ia dividir os que já tinham sido arregimentado pelos partidos que já se ocupavam de defender os interesses dos trabalhadores, como o PTB, de origens getulista o PCB, o PCdo B, de origem marxista, e o PSB, de origem na social-democracia. E essa divisão, de fato, aconteceu, mas foi o Partido dos Trabalhadores que arregimentou os trabalhadores. Ou seja, essa intuição do Lula de apelar para a singeleza e para a generalidade foi, de fato, genial. Hoje, mais de quarenta anos depois, todo mundo sabe que o Partido dos Trabalhadores foi sendo construído pelos que aderiram e trabalharam nas administrações para as quais foram eleitos candidatos petistas ou apoiado por eles. E todo mundo sabe o que foi que os governos petistas e seus apoiadores fizeram pelos trabalhadores deste povo. Todo mundo sabe também a desgraça a que fomos levados pelos que precisaram abrir as portas do inferno para ganharem uma eleição. Pois o que está no centro desta eleição, a meu ver, é isso: mandar de volta pro inferno esses que abriram aquelas portas.”

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Ondina Fachel Leal, antropóloga, professora titular aposentada da UFRGS

“No meu entender, a questão central nesta eleição foi revelada pela enchente de proporções catastróficas pela qual passamos este ano. O rei estava nu. Ficou evidente, para além da cansada voz dos cientistas, desta vez na nossa própria pele e em tudo aquilo que uma água fétida tomou conta e afogou – vidas, nossas coisas e nossos sonhos –, que a cidade não estava sendo bem cuidada. Sem a devida manutenção (coisas que se espera do síndico da nossa cidade), bombas de drenagem de água não funcionaram; comportas do cais não estavam operacionais, bueiros entupidos, não havia plano de emergência. O cimento ganha o terreno verde. É urgente voltar a colocar o bem público no centro da ação política, deixar de governar de mãos dadas com a especulação imobiliária. Basta.”

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Raphael Guimaraens, escritor

“Estamos diante da eleição mais importante dos últimos 40 anos. Não se trata apenas de uma disputa sobre quem e qual proposta governará Porto Alegre nos próximos quatro anos. É sobre o que a cidade será daqui para diante ou o que restará dela. Do ponto de vista institucional, Porto Alegre respira por aparelhos, os serviços públicos chegaram a um ponto que não podem mais se chamar de serviços e muito menos de públicos, e o que resta deles deve-se unicamente ao esforço dos servidores. A cidade está sendo impiedosamente loteada para gigantescas corporações. Diante de tudo isso, uma grande parte da cidade padece de um misto de apatia e alienação, arduamente trabalhada pelos que, gestão após gestão, enterraram à míngua os instrumentos de participação popular, os quais, em algum momento, colocaram a cidade no mapa mundial da democracia. O que antes era cidadania ativa e instigada agora é desencanto e conformismo. A enchente consagrou a inoperância e a negligência da, digamos assim, administração municipal. Mas nada é tão ruim que não possa piorar. Ano que vem volta a discussão sobre o Plano Diretor, uma trincheira meio esgualepada que ainda preserva algum respiro da nossa urbe. A se manter a atual gestão Porto Alegre se tornará o paraíso do vale-tudo. A cidade sobrevive pelos seus artistas, pelos slams da periferia, pelo hip hop, pelas feiras de economia solidária nos bairros, pelos saraus que celebram a palavra, pelas iniciativas de quem gosta da cidade. Que essa energia eletrize os porto-alegrenses e inspire o voto de cada um, e que seja um voto de protesto e esperança.”

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Juarez Fonseca, jornalista

“Penso que no centro destas eleições está Porto Alegre. De três administrações para cá a cidade vem sendo maltratada. Há faixas de segurança e faixas de delimitação das vias de trânsito que não recebem manutenção há mais de dez anos. Nos bairros de classe alta vê-se uma coisa, nos bairros de classe média, outra. Se nos primeiros há limpeza, boa pavimentação, lixo recolhido cedo, nos outros empilha-se sujeira, mato alto, grande parte da pavimentação está degradada, buracos por todo o canto, lixo recolhido no meio da tarde. Me disponho a mostrar a cidade abandonada aos candidatos, em meu carro. A primeira coisa que um bom prefeito deveria fazer é arrumar a cidade, deixá-la bonita (como já foi). Esperando ser bem-entendido, tenho dito (sem medo de patrulhas ideológicas ou do politicamente correto) que Porto Alegre está precisando de uma boa dona-de-casa…”

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Karina Lucena, professora de Literatura Hispano-americana na UFRGS

“Pra mim, o centro da eleição municipal deveria ser a catástrofe de maio. Que os porto-alegrenses reconhecessem a responsabilidade da atual gestão e que não a reconduzissem ao cargo. É o único jeito de ter um projeto de bem-estar social para a cidade.”

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Thomás Vieira, editor da Coragem

“O que está no centro da atual eleição é o quanto o campo progressista porto-alegrense ainda tem capacidade de se mobilizar popularmente para competir com os projetos ‘liberais’ e, em segundo nível, acredito que o resultado demonstrará o quanto a velha propaganda anti-comunista e (bastante) machista contra as candidatas do PT e do PDT é capaz de encontrar cidadãos identificados com estes valores.”

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Alan Alves Brito, astrofísico, professor na UFRGS

“A principal questão nas eleições 2024 continua sendo, para mim, a democracia, no seu sentido mais profundo, em que as desigualdades sociais e étnico-raciais, nas intersecções com variados marcadores sociais da diferença, são cruciais. No Rio Grande do Sul, Estado assolado por crises econômicas, sanitárias e socioambientais, há muito a ser feito no sentido de superar as carências e romper com os privilégios históricos. O valor mais importante é o compromisso ético de todas e todos nós, sobretudo de representantes políticos, para com a população do ‘Rio Grande do Sul profundo’ na construção de outras perspectivas cosmológicas em prol de sociedades justas e comprometidas com o bem-viver.”

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Flávio Kiefer, arquiteto, professor da PUCRS

“O que deve ser decidido nesta eleição é se vamos mudar o rumo do modo de fazer Porto Alegre. Decidir se vamos continuar fazendo uma cidade voltada para os automóveis, para o mercado imobiliário, destruindo a paisagem e o patrimônio construído. Se mais e mais responsabilidades do poder público vão ser transferidas para a iniciativa privada em forma de negócios. Se a segregação dos cidadãos em ilhas de isolamento por classe social vai continuar e se vamos deixar que, em alguns anos, já não reconheçamos Porto Alegre como a Porto Alegre que amamos.”

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Ivan Pinheiro Machado, editor e artista plástico

“O que está posto nesta eleição é um dilema shakespeariano: ser ou não ser – estará o porto-alegrense disposto a reeleger uma administração que foi flagrantemente derrotada pela enchente, causando imensos prejuízos econômicos e emocionais para a população? E mais: estará o porto-alegrense disposto a reeleger quem entregou a cidade para a especulação imobiliária? Você, porto-alegrense, está com a palavra!”

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Edgar Vasques, artista plástico

“Considero que a principal questão em jogo nesta eleição é a preservação do estado como principal instância de garantia do equilíbrio social. Perante o contínuo assédio privado ao poder (e aos recursos) da sociedade, só uma gestão do estado municipal comprometida com o uso destes recursos em favor da maioria da população pode garantir o interesse público. Não podemos continuar sofrendo a contradição de ter na gerência do estado alguém que trabalha para fragilizar o estado e privatizá-lo.”

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Rualdo Menegat, geólogo, professor titular da UFRGS

“A gestão ambiental urbana e o cuidado com os ecossistemas de seu entorno tornaram-se hoje uma questão central de sobrevivência frente à emergência climática em curso. Porto Alegre deve cada vez mais diminuir sua pegada ecológica, aumentar as áreas verdes e principalmente ter um robusto plano de enfrentamento aos tempos severos. Isso implica não só no funcionamento de um sistema de proteção contra inundações – cujo sucateamento nas últimas gestões ocasionou o colapso total da cidade. É imperativo que se estruture uma inteligência social do lugar em todos os recantos do município e com todas nossas comunidades. A questão crucial é fazer desse momento de colapso ocasionado pela má gestão da cidade um ponto de superação. Porto Alegre pode ser exemplo de como é possível enfrentar os tempos severos com democracia participativa, inteligência social do lugar e inovação sustentável. Não há desafio maior do que este para nossa cidade e para nossa gente no século XXI.”

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Zara Gerhardt, geóloga

“Na minha modesta opinião, está em jogo nestas eleições municipais a futura habitabilidade de POA. Para mim o cerne da questão está no meio ambiente: a proteção da cidade contra as enchentes e o calor excessivo, que só aumenta com as podas assassinas das árvores. De cambulhada vem a habitação digna, tanto para aqueles que perderam tudo na enchente, quanto os das periferias. Saúde e educação não podem ficar de fora. Creio ser urgente a manutenção dos mecanismos de proteção da cidade contra as cheias, ao mesmo tempo que se faz necessário um projeto de cidade.”

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Lucy Linhares da Fontoura, psicanalista

“Para mim, esta eleição representa uma tomada de posição quanto aos rumos da nossa cidade: se vamos escolher dar lugar às pessoas, ao convívio, à preservação dos espaços públicos, ao investimento nos bairros – especialmente os que mais sofreram com a enchente de maio último, na vida cultural e nas artes.”

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Beatriz Daudt Fischer, educadora, professora da UFRGS

“O que está no centro da atual eleição parece ultrapassar propósitos comumente defendidos, como o fortalecimento da democracia, a legitimação da soberania popular e, por decorrência, a defesa radical da educação, segurança e saúde. Agora, em Porto Alegre, é determinante a retomada de políticas públicas que se sobreponham aos interesses privados. Em todos os âmbitos da gestão municipal.”

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Bárbara Neubarth, psicóloga

“Esta eleição não é uma simples polarização entre gremistas e colorados, entre homens e mulheres, entre comunistas e não-comunistas, como tentam nos fazer pensar. Há, no cerne da atual eleição, uma disputa entre os que desejam uma sociedade mais justa, com um Estado forte em políticas públicas potentes, e aqueles que pregam um estado mínimo, que conforte os mais pobres, para que tenham a condição suficiente para mover as galés.”

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Taiasmin Ohnmacht, psicanalista e escritora

“Estar na cidade, viver a cidade, viver a cidade junto com outros moradores. Tem uma diferença entre uma cidade ser administrada para as pessoas de uma cidade administrada para negócios. Não é a mesma coisa. Sobretudo se o objetivo é auferir lucro e bons negócios para a iniciativa privada, como tem sido o caso das últimas administrações da prefeitura. Tivemos experiências suficientes pra saber que isso não volta pra população. Quero uma cidade pensada para pessoas, tanto nas áreas centrais quanto na periferia. Quero que as pessoas sintam gosto em ocupar as ruas. A sensação de segurança é ver pessoas nas ruas, paradoxalmente, até mais do que o policiamento. Para isso é preciso calçadas bem cuidadas, iluminação, arborização, incentivo a atividades culturais nos bairros. Além do óbvio, manutenção da estrutura contra enchentes. Quero uma cidade viva.”

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Dudu Sperb, músico e artista visual

“Talvez a questão mais crucial dessa eleição seja o questionamento do modelo neo-liberal que tem prevalecido nas últimas gestões e do quanto ele vem piorando a vida das pessoas em vários níveis, pelo desmantelamento de nosso patrimônio público, entre outras coisas. Precisamos revitalizar o que é público e fortalecer a percepção de que o que é público é importante e tem qualidade. Pra isso, é necessário combater a noção simplista, equivocada e ainda muito comum de que ‘privatizar é melhorar’. A crise climática que também é, ou deveria ser, uma das questões-chave nessa eleição e nas próximas, é um bom exemplo. Porto Alegre tem sido devastada por gestores que se associaram ao poder econômico, promovendo uma verdadeira destruição de sua vegetação. Para combater esse cenário trágico, temos que fortalecer as instituições públicas que cuidam dos biomas, promover mudanças estruturais, educar e conscientizar sobre a questão ambiental, aumentar as áreas verdes, qualificar o manejo da vegetação, enfim, implementar várias práticas de preservação e de equilíbrio das condições de vida e aprimorar a prevenção dos eventos climáticos e seus efeitos.”

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Eleonora Dobner Belo, médica pediatra e sanitarista

“Pode parecer óbvio que a questão central da eleição se relacione à administração do nosso município, às diversas melhorias que gostaria que houvesse para que fosse melhor viver em Porto Alegre, para que meus pacientezinhos da periferia tivessem melhores condições de vida, que seus pais pudessem contar com creches para poderem trabalhar sossegados, que as crianças não chegassem ao terceiro ano do curso fundamental sem saber ler, que tivessem acesso mais rápido e eficaz a atendimento especializado quando necessário, enfim, poderia fazer uma lista enorme de coisas que me interessa que melhorem em nossa cidade. Tudo isso me interessa, mas não constitui o centro de minhas preocupações hoje em dia. Outro dia começou a chover forte outra vez em Porto Alegre e em municípios do interior que foram devastados pela enchente de maio, e antes, pelas enchentes do ano passado… Fui tomada por uma angústia impensável em outros tempos! Estava com medo da chuva! Lembro com uma ponta de amargura que, há 40 anos, quando fiz meu trabalho de conclusão no curso de especialização em Saúde Pública, que tratava dos potenciais efeitos da poluição ambiental sobre a saúde dos seres vivos, muitas pessoas me olhavam com certo desdém, como se eu estivesse falando de alguma bobagem sem importância, papo de alternativos, de remanescente dos hippies. Não sei aonde nos levará a loucura do nosso tempo, e trato de manter algum otimismo, embora com muita dificuldade, diante dos acontecimentos de todos os dias. Pelo menos, agora já se fala da possibilidade de estarmos chegando a um ponto de não retorno, mas nada indica que seremos capazes de tomar as medidas urgentes para evitar nossa própria extinção. Por isso, no centro da atual eleição, para mim, de qualquer eleição que venha a acontecer nestes tempos bicudos, está a preocupação com a manutenção da democracia e com o crescimento da extrema direita no mundo e as consequências que isso já vem tendo em vários países, incluindo o Brasil.”

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As opiniões emitidas pelos/as autores/autoras não expressam necessariamente a posição editorial da Matinal.

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