Editorial | Revista Parêntese

Parêntese #245: You Bet

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Parêntese #245: You Bet Foto: Joédsom Alves/Agência Brasil

Não sei se é gíria corrente ainda nas novas gerações, mas se dizia muito em inglês “You bet” no mesmo sentido que em português diário a minha geração aprendeu a dizer “Pode crer”: uma forma de concordar enfaticamente. Claro. Certamente. Conta comigo. Literalmente, a frase diz “Você aposta”, “Você aposte”, ou mais claramente “Pode apostar (que sim)”. 

Pode apostar. 

Corta para o presente do país. O Banco Central divulgou na terça passada números que seriam estarrecedores se a gente não tivesse perdido a capacidade de ficar estarrecido: no mês de agosto – um mês, apenas um mês – brasileiros apostaram 21,1 bilhões de reais nas agora chamadas bets, as empresas de apostas online. 

Como aquilatar o tamanho desse valor? 

O hospital Nora Teixeira, um novo prédio da Santa Casa de Porto Alegre, moderníssimo e tal, custou 284 milhões. MI, não BI. Se não perdi a mão nas contas, com o valor das bets brasileiras em agosto daria pra construir umas sete centenas desses prédios hospitalares.  O PIB do Rio Grande amado em 2021 (dado da Wikipedia) foi 581 bilhões de reais, pouco mais de 25 vezes o valor desse único mês das bets. Se esse gasto mensal com as apostas for constante ao longo de um ano, ele somaria 252 bi – quase metade do PIB do RS, que, não custa lembrar, é o quarto PIB do Brasil entre os estados federados.  

Não bastando essa demasia toda, um dado sobressaiu: beneficiários do Bolsa Família que fazem apostas online são responsáveis por 3 dos 21 bi totais. 

Mais números: dos 20 milhões de beneficiários atuais, 5 milhões – um em cada quatro – apostaram online no período; a mediana foi de cem reais (o pagamento mensal do benefício ronda os 680 reais ao mês); 70% por cento dos bolsistas que apostam são chefes de família.

 Tudo isso e o Congresso não regulamentou nada. Por quê? Porque o país real é perfeitamente dispensável para a Grande Armação em que se converteu o jogo institucional da política no Brasil. 

Parte importante do ônus por essa situação de anomia repousa sobre uma fraqueza: a tibieza do jornalismo profissional no país. Com exceções escassas, não há jornalismo profissional para fiscalizar o poder legislativo, que age à vontade nas sombras, ao capricho dos chefes do momento. Em Brasília, mas igualmente na Assembleia e nas Câmaras de Vereadores. 

Nem mesmo agora, às vésperas de eleição de vereadores, os jornalões e grandes veículos se dão a esse trabalho. 

Pode crer. 

 

Luís Augusto Fischer


Nesta edição 

A emergência climática tem nos feito pensar na natureza como nunca antes. Como aponta Zara Gerhardt em seu texto, são detalhes mínimos que fizeram a vida na Terra surgir e que importam para que ela siga em equilíbrio. Mas, é preciso lembrar: não temos feito a nossa parte. Marcelo Santos diz algo semelhante, com outras palavras. A partir de uma experiência com música em sala de aula, reflete sobre a ansiedade da vida cotidiana. Falando em música, Paulo Damin reverencia a Orquestra Sinfônica de Porto Alegre na crônica de hoje. 

Enquanto Euclides Bitelo faz um passeio pelo Vale do Anhangabaú e divide com os leitores e leitoras um pouco da história da região central de São Paulo, Juremir Machado da Silva homenageia Porto Alegre e seus encantos. Uma história apimentada com gêmeos idênticos é o mote do conto de Miguel da Costa Franco

Na nossa seção sobre os 200 anos da imigração germânica no Brasil, Ursula Axt Martinelli compartilha a história da sua família, de alemães-russos que se instalaram em Ijuí. 

 


 

Crônicas & Ensaios
Pequenos detalhes, por Zara Gerhardt
Resenha da Ospa, por Paulo Damin
Nascemos para correr, por Marcelo Santos
Anhangabaú: o Vale que uniu São Paulo, por Euclides Bitelo
Cenas da vida cotidiana de Porto Alegre, por Juremir Machado da Silva 

Conto
Eu sei quem você é, por Miguel da Costa Franco

200 anos da imigração germânica
Baú de memórias: Uma família de alemães-russos em Ijuí, por Ursula Axt Martinello

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