Resenha

Eva

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Eva Companhia das Letras/Divulgação

Hoje escrevo este ensaio para convidar cada um de vocês para uma leitura. São inúmeros os livros que descrevem a história da humanidade, mas recentemente alguns se destacam, pela proposição de novos olhares. 

Dentre estes livros cabe citar o Sapiens, de Yuval Harari e O Despertar de Tudo, livro de David Graeber e David Wengrow, que propõe uma nova leitura, a partir do reconhecimento de uma história que considera essencial a compreensão dos povos originários e a imaginação de futuros possíveis. Para mim, o Despertar de tudo é um livro fundamental para que possamos relativizar visões que aprendemos historicamente e que revelam apenas uma parte da realidade de determinado momento.

Entretanto, acredito que o livro mais importante para compreendermos a nossa história como humanidade, foi publicada recentemente pela autora Cat Bohannon. O livro se chama Eva, foi lançado no final de 2023 e a tradução para o Brasil saiu em maio de 2024. Cat Bohannon é escritora e cientista e possui doutorado pela Columbia University em Evolução da narrativa e da cognição. A proposta do livro é contar 200 milhões de anos de evolução humana, a partir dos corpos femininos. 

O texto apresenta 7 diferentes Evas ao longo do tempo e busca, através de 9 capítulos, recontar nossa história.

Os capítulos se desdobram a partir da compreensão de elementos essenciais para a vida humana e sua evolução ao longo do tempo. O primeiro é denominado Leite, e faz um mapeamento histórico do surgimento e evolução co leite materno e dos impactos em nossa sociedade. 

A leitura deste livro me lembrou de outras obras, com o livro Invisible Women, de Caroline Criado Perez, que descreve como o mundo é projetado para o homem médio. Outros livros como The end of Average, de Todd Rose, ilustram o perigo da projetação para a média, parâmetro que ignora a diversidade e no qual nenhum de nós cabe. Se pensarmos, por exemplo, no tamanho médio do sapato dos leitores deste texto, o resultado será, provavelmente, um numero que ou não representa nenhum de nós, ou representa uma pequena parcela. Teremos um sapato que não serve em ninguém, ou quase ninguém. 

Reconhecer a diversidade, as diferenças, é um caminho fundamental para a construção de espaços com maior valor para todos. A leitura de obras que desafiam uma história única, um mundo padronizado, um universo, é fundamental para a ampliação de nosso modelo mental, de nosso olhar, de nossas possibilidades. 

Destaco finalmente a importância de obras complementares que colocam na pauta a compreensão pluriversal de nossa realidade. Autoras nacionais como Renata Leitão, e internacionais, como Lesley Ann Noel, tem colocado na pauta esta perspectiva que reconhece que vivemos em um mundo onde cabem muitos mundos. Compreender isso nos torna mais potente e revela o grande valor de ser humano: reconhecer no outro as possibilidade de construção coletiva, de aprendizagem, de mudança para um mundo melhor para todos.


Gustavo Borba é pesquisador, escritor e professor na Unisinos.

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