Resenha

Linha d´água rompe fronteiras da escrita

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Linha d´água rompe fronteiras da escrita Foto: Divulgação

O livro “À linha d’água do rio” (Pubblicato Editora, 2024), de Sidnei Schneider, tem uma qualidade na sua forma de escrever que flutua e navega entre gêneros. Com habilidade e domínio, o autor amalgama a prosa poética numa coletânea, enxuta, divertida e lírica.

Poeta, ficcionista, tradutor e ensaísta, com uma extensa produção livresca, Schneider deve ter dado um trabalhão para a bibliotecária que faz a catalogação da obra, a obra divide-se entre contos, crônicas, literatura brasileira, porém, como o título indica, acima e abaixo desta superfície líquida, pulsa a veia poética do autor. 

No texto de prefácio, o escritor Jorge Rein é preciso: quanto ao conteúdo literário “transita com a mesma desenvoltura nos caminhos dos mais diversos gêneros e suas variações: o conto, a poesia, o relato de viagem, a crônica, o diálogo teatral ou cinematográfico…”, define.

Sidnei lembra que, poema mesmo, tem Canícula, um breve exercício que remete a um haicai urbano mais que contemporâneo: “camisa destripada/ carruagem de papeleiro/ latrás a praca/ compra-se sombra”, e, quem sabe, um toque modernista oswaldiano, de “O capoeira”.  Esta associação dos poemas instigou um comentário do autor: “por essa época, Canícula é de 1993, pode ser de Oswald, sim. Mas eu nunca havia pensado nisso, nem mesmo quando escrevi o poema. A cena era tão desconstruída, o homem no lugar do animal (o papeleiro era uma novidade por aqui), que tinha que ter alguma alteração na linguagem, surgindo, talvez, assim, o sopro da linguagem mais popular”, conclui.

Do conjunto dos textos, o autor esclarece que foram produzidos em tempos distintos: “O conjunto denominado Ruas foi publicado na forma original”, observa. Ainda sobre Ruas, pode-se dizer que é sempre um painel urbano fragmentado, clics fotográficos em forma de poemas, o mesmo pode ser identificado nos contos.

As narrativas curtas abrangem aspectos para além do ambiente da cidade grande, há recortes rurais, idílicos. 

Esse volume é fruto que vem de algum tempo: “Foi uma produção elaborada ao longo dos anos, enquanto me ocupava da escrita mais cotidiana relativa à poesia, à prosa ficcional, à tradução e a alguma crítica”, explana o autor no texto de introdução. Muito desse material, agora reunido, foi pulicado esparsamente, segundo Sidnei.

Acima ou abaixo da linha d’água, são textos que pulsam, com requinte, um tempo de leitura para fluir e usufruir. Todo curso d’água tem suas correntes, enchentes e margens. Um universo por explorar, “À linha d’água do rio” exige uma régua mais alta que resenha.  


À linha d’água do rio, de Sidnei Schneider
131 páginas
Pubblicato Editora, 2024


José Weis é jornalista.

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