Editorial | Revista Parêntese

Parêntese #237: O país dos privilégios

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Parêntese #237: O país dos privilégios Inhotim. Foto: Brendon Campos

Saiu agora um livro de valor: O país dos privilégios, de Bruno Carazza. É o volume 1 – Os novos e velhos donos do poder. Seu foco é mostrar, neste primeiro tomo da obra, as “regalias do topo das carreiras do Executivo, do Legislativo e do Judiciário, nos três níveis de governo”, municípios, estados e união. 

Os exemplos que o autor vai repassando são de uma eloquência total. O primeiro deles: o governo de Minas Gerais lança em 2017 um programa de regularização de créditos tributários – um jeito de cobrar o mínimo que seja de devedores contumazes, que sempre livram a própria cara. Um item da lei previa que obras de arte e objetos históricos poderiam ser dados como pagamento para quitar esses débitos. Até aqui estamos num terreno decente: manter obras e objetos de valor dentro do território é coisa que países europeus fazem, e com isso recheiam museus. 

Aí entra em cena Bernardo Paz, dono do Instituto Inhotim que devia bilhões aos três níveis de governo, com seu conglomerado de mineradoras e siderúrgicas. O Inhotim tem centenas de obras de arte carésimas, e dizem que o lugar é bacana (nunca fui lá). 

Esse Paz devia 471 milhões de reais para o estado mineiro em 2017; o governo estadual já tinha renegociado essa dívida para 117 milhões. O empresário ofereceu vinte obras do seu Inhotim para pagamento dessa dívida; as vinte foram avaliadas em 439 milhões – ah, o valor das obras de arte… Quanta picaretagem se faz nesse mundo, quanta lavagem de dinheiro…

O governo do estado topou o negócio e aceitou uma cláusula que impede o governo mesmo de vender as tais obras. Já aqui o cidadão de Minas viu morrer essa grana toda, que deixou de ser arrecadada e agora era imobilizada. Mas teve mais: o contrato previa que o governo de Minas cederia em comodato (quer dizer, de graça) essas mesmas obras para ficarem expostas – adivinha onde? No Inhotim. 

Paz realizou “a proeza de quitar uma dívida multimilionária repassando para o governo vinte obras de sua propriedade que nunca poderiam ser vendidas e, além disso, continuariam expostas em seu próprio centro cultural”. 

Esse é apenas o primeiro caso, num livro que devia ser lido por todo mundo. Como disse o brilhante e pouco lido Raymundo Faoro – que é o centro nervoso do livro de Carazza –, são os eternos donos do poder, os patrimonialistas que se servem do estado. 

Luís Augusto Fischer 


Nesta edição

Abrimos a edição deste sábado com uma entrevista especial de Luís Augusto Fischer com o historiador, professor e pesquisador Tau Golin. Nubia Silveira celebra a vida dos jornalistas Carlos Bastos e Flávio Tavares, que comemoraram 90 anos de idade recentemente. 

Gilberto Perin conta como um telefonema de Aníbal Damasceno Ferreira preencheu algumas lacunas da história do dramaturgo Qorpo Santo. Vivemos a era do excesso, escreve Mauro Castro, também conhecido como Taxitramas – autor de belíssimas histórias que acontecem no seu táxi. 

Canela está em vias de mudar o seu Plano Diretor, e, por lá, os políticos têm dividido a cidade em “Canela verde” e “Canela cinza”. Essa discussão não é apenas sobre a cidade, é sobre os jeitos de se viver na cidade. Leia mais no  texto da arquiteta e urbanista Francine Broilo

Celebrando os 200 anos da imigração germânica no Brasil, Luís Augusto Fischer começa uma minissérie sobre a literatura de teutodescendentes. Juremir Machado da Silva conclui o conto sobre o guri que sentia medo. E Arthur de Faria narra o retorno da dupla Kleiton e Kledir, após sete anos de afastamento.

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