Crônica

A era do excesso

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A era do excesso

Há muitos anos, entrei numa loja de música e comprei um piano. Assim, do nada. Nem estava pensando em comprar. Uns 20 anos atrás. Olhei o piano, experimentei por uns 5 minutos, perguntei o preço e comprei. Uma das melhores compras da minha vida. Adoro meu velho e bom piano.

Hoje precisei comprar um alicate. 

Peguei o celular, Google, alicate. Milhares de ofertas. Entrei num site chinês. Alicates de todos os tipos, alumínio, ferro, aço cirúrgico, fibra de carbono, lâminas a lazer, trezentos tipos. Escolhi um. Fui olhar os comentários. Mais de 300 avaliações. Li todas. 

Aquela compra me parecia uma coisa absurdamente importante. Passei para um outro modelo, mais 137 avaliações. Não, alguém não gostou, fui pra outro. Descobri que pessoas que visualizaram aquele anúncio, também se interessaram por um outro tipo de ferramenta. Melhor que o alicate. Passei a olhar o outro tipo…

Anoiteceu, a bateria do celular arriou, minhas costas doendo, a bexiga explodindo, o gato pedindo ração, a casa no escuro. Decidi deixar tudo pra lá, frustrado, sem conseguir comprar um simples alicate. O excesso de ofertas, o excesso de informação, o excesso de cobrança, o excesso de desejo, o excesso de expectativa… O excesso. Vivemos a era do excesso.

Estiquei as costas, dei uma mijada, e fui tocar o piano.


Mauro Castro tem duas vidas paralelas: é um taxista que sustenta um escritor, e um escritor que explora um taxista. Seu mais recente volume de crônicas e Taxitramas 6, que pode ser buscado no site taxitramas.com.br  

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