Porto Alegre precisa cada vez mais do jornalismo independente
Passado o momento emergencial dos resgates e evacuações, Porto Alegre vive a fase de reconstrução. O Mercado Público reabriu, as primeiras unidades habitacionais para desabrigados começam a ser erguidas, uma série de eventos culturais estão sendo realizados para levantar fundos e ajudar quem ainda contabiliza suas perdas.
Logo começa a campanha eleitoral e o discurso da “volta por cima” deve ganhar cada vez mais força, especialmente pelo lado de Sebastião Melo, que tentará a reeleição. Mas esse movimento de recuperação acontece enquanto ainda há montanhas de lixo pelas ruas, casas tomadas pela lama, novos alagamentos e centenas de pessoas desalojadas – muitas esgotadas física e mentalmente.
A nova etapa vivida pela cidade demanda uma cobertura tão crítica e atenta quanto aquela que realizamos no primeiro mês da tragédia climática. Nesta semana, mostramos que, mesmo com um valor aprovado pelos vereadores de R$ 1,6 mil para o programa Estadia Solidária, Melo decidiu pagar R$ 1 mil. A prefeitura defende que o texto fala em “valor máximo”, mas parlamentares questionam a postura do executivo.
Na semana passada, dedicamos duas reportagens ao caso do condomínio planejado para o bairro Petrópolis e que recebeu autorização para derrubar mais de 90 árvores no terreno. Depois da primeira matéria que foi ao ar, outros veículos abordaram o caso. A pauta do manejo arbóreo das cidades está diretamente ligada à crise climática.
Sabemos que essa é uma cobertura dura de acompanhar – e não menos difícil de produzir (aliás, contei à Latam Journalism Review como nos organizamos no início desse período). Estamos todos traumatizados com o barulho da chuva e, quando olhamos para o futuro, as projeções não são muito animadoras, tanto que foi cunhada a expressão “ansiedade climática”.
Não à toa os brasileiros estão evitando cada vez mais as notícias. O relatório de mídia digital do Instituto Reuters, divulgado nesta semana, mostra que 47% dos entrevistados assumem essa postura, seis pontos percentuais acima do índice revelado um ano atrás. Mas também há bons resultados na pesquisa: a confiança geral nas notícias no Brasil permanece estável em 43%, após quedas seguidas nos anos anteriores.
O relatório destaca ainda a força da imprensa local, que continua sendo uma das mais confiáveis, com nível de confiança de 61%. Por outro lado, o documento aponta que esse mesmo segmento enfrenta enormes desafios financeiros – situação que conhecemos bem na Matinal. Quero lembrá-los que, no final do ano passado, anunciamos nossa migração para uma organização sem fins lucrativos. Isso significa que todo dinheiro recebido pela Matinal é investido em jornalismo.
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