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Museu da Cultura Hip Hop RS celebra trajetória do grupo Revolução RS

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Museu da Cultura Hip Hop RS celebra trajetória do grupo Revolução RS Foto: Divulgação / Museu da Cultura Hip Hop RS

O Museu da Cultura Hip Hop RS inaugurou no último sábado (6) a exposição Vai Ficar Russso: Três Décadas de Revolução RS. A mostra integra o programa Vem Pro Museu, viabilizado pela Lei de Incentivo à Cultura, que será realizado ao longo de 14 meses, contemplando projetos culturais e esportivos.

Composta por fotos, vídeos, cartazes, flyers de shows e outras dezenas de artigos, Vai Ficar Russso ocupa a sala Hip Hop Criado na Rua, que até então recebia a mostra Da Guedes 30 Anos. A exposição atual – que faz referência à música Russo, do Revolução RS – conta a história do grupo, que nasceu em 1992, no bairro Bom Jesus, em Porto Alegre, e se tornou uma das principais referências do rap no estado.

Os itens expostos integram um acervo construído pelo grupo ao longo de mais de 30 anos, como conta o rapper PX, um dos fundadores do Revolução RS: “A gente tinha um entendimento um pouco à frente do que a gente vivia. Eu e o DJ Péia sempre guardávamos alguma referência da nossa trajetória e das nossas conquistas. Hoje, deu no que deu. Com mais de 85 itens, conseguimos contar uma história. A gente segue extasiado e nunca imaginou que os pedaços de papéis da nossa vida iam estar num museu”.

A mostra ressalta o pertencimento do grupo ao bairro Bom Jesus, evocado pelo Revolução RS em menções e saudações ao “quatro sete zero”, prefixo da linha de ônibus Bom Jesus. “Muitas vezes, a gente dizia que era da Bom Jesus em outra comunidade e pegava mal, tinha muita rixa de gangues naquela época. Um dia, olhando o ônibus passando, a gente criou o código, não era agressivo. Quem era do movimento sabia o que era 470. Outros grupos começaram a usar prefixo de ônibus no início de música pra galera saber de qual quebrada tu era”, recorda PX.

Foto: Divulgação / Museu da Cultura Hip Hop RS

A exposição também apresenta outras atividades do grupo e o estímulo ao empreendedorismo nas comunidades por meio de iniciativas como a produtora cultural Cabeça Preta, a grife Fulano e Ciclano e festivais de música, como Ômega Festival e Som Na Favela. PX destaca o trabalho da Casa do Hip Hop KSULO, a partir de meados dos anos 2000: “A KSULO foi um dos primeiros embriões para uma casa de hip hop. Proporcionava os quatro elementos do hip hop [DJ, MC, break e graffiti], com salas didáticas de serigrafia e geração de renda. A gente passava o que sabia fazer. É nossa grande arma pra resgatar os irmãos na ponta, com isso se espraiando pra outras comunidades”.

Em nível estadual, ainda nos anos 1990, o grupo ampliou seu público e atuação política em showmícios da campanha de Olívio Dutra (PT) ao governo do estado, quando esse tipo de evento era permitido. Estreitando o contato do Movimento Hip Hop com a política do estado, o envolvimento com a candidatura que venceria as eleições de 1998 contribuiu para a criação, no ano seguinte, do programa Hip Hop Sul, na TVE RS – considerado o primeiro programa de tv aberta do país com protagonismo do hip hop. Em 2001, o Revolução RS seria uma das atrações do 1º Fórum Social Mundial.

Os territórios do Revolução RS se expandiram a partir da colaboração com a banda Ultramen na música Peleia (2000), que mescla rap e milonga. A faixa chamou a atenção do produtor musical Milton Sales, que levou o grupo para São Paulo no início dos anos 2000. Por lá, os gaúchos colaboraram com nomes como o rapper Sabotage – assassinado na capital paulista em 24 de janeiro de 2003, aos 29 anos, na véspera de uma apresentação com o Revolução RS no 3º Fórum Social Mundial. A temporada do grupo em São Paulo também ampliou o intercâmbio cultural entre artistas do hip hop dos dois estados.

Vai Ficar Russso: Três Décadas de Revolução RS homenageia Fábio da Silva Dias (1975 – 2024), o Amarelo, integrante do Revolução RS com mais de três décadas de atuação ativista, educativa e musical, que faleceu no dia 24 de junho, por complicações cardíacas. O grupo, que já teve em sua formação DJ Ton, Branco, Ponha, DJ Zezão, Sadol, Dedi, Curumi e Amarelo, hoje é composto por PX, Mano Jão, Kbça, DJ Péia e Gibbs.

Vem pro museu e pra quadra de basquete

Foto: Divulgação / Museu da Cultura Hip Hop RS

Com orçamento de R$ 270 mil, viabilizados pela Lei de Incentivo à Cultura federal, o programa Vem Pro Museu contempla eventos esportivos – basquete, breaking, futebol e basquete –, produção e gravação de artistas da música, apoio a escritores e escritoras vinculados à cultura hip hop e exposições – depois do Revolução RS, CTG Klan, Gás, Piá, Santa Lata e Slam do Vida serão tema de mostras.

No dia 21 de julho, o museu recebe o primeiro Hip Hop Esporte – Torneio de Basquete 3×3, realizado pela ONG Suve, contemplada por um dos editais do Vem Pro Museu. A competição – com inscrições abertas para trios femininos e masculinos – inaugura a Quadra Petrobras, que integra a área externa da instituição. A pintura da quadra e dos muros ao redor é assinada pela artista Gugie, que contou com a colaboração de outros nove grafiteiros e curadoria do também grafiteiro Tio Trampo.

Inaugurado em dezembro de 2023, ano de celebração internacional dos 50 anos do hip hop, o Museu da Cultura Hip Hop RS é uma iniciativa da Associação da Cultura Hip Hop de Esteio. Primeiro museu da América Latina dedicado ao movimento, está localizado na rua Parque dos Nativos, 545, no bairro Vila Ipiranga – endereço de uma escola que havia sido desativada –, e tem área de 4 mil metros quadrados.

Foto: Divulgação / Museu da Cultura Hip Hop RS

Inspirado no The Hip Hop Museum, de Nova York, o complexo conta com espaços expositivos, ateliês, biblioteca, estúdio musical, palco, quadra esportiva, café, loja, estufa agroecológica e cerca de 6 mil itens de um acervo físico e digital sobre a história do hip hop no Rio Grande do Sul. A iniciativa busca inspirar a fundação de outras instituições dedicadas à cultura hip hop no país, com o grande objetivo de construir o Museu Brasileiro da Cultura Hip Hop nos próximos cinco anos.

Em 2021, Rafa Rafuagi, músico, militante do Movimento Negro e idealizador do museu, contou à Parêntese que a ideia de criar o espaço surgiu por volta de 2018: “Contratamos um instituto para fazer uma pesquisa de campo em nove regiões do estado, com mais de 400 pessoas mobilizadas em fóruns. Isso foi fundamental para entendermos que o projeto não é de uma pessoa, de uma entidade ou de uma região, mas do estado e de todos os territórios em que a cultura hip-hop se enraizou, se desenvolveu ou teve passagem”.

“O museu surge no contexto da valorização da cultura hip hop, um lugar que possa ser referência e que cuide do patrimônio e da memória dessa cultura, que foi construída nas periferias do estado por pessoas que nunca saíram no jornal, mas que agora vão ter um espaço de reconhecimento e inspiração para as futuras gerações”, completa Rafuagi.

Museu da Cultura Hip Hop RS. Foto: Leo Zanini

Exposição “Vai Ficar Russso: Três Décadas de Revolução RS”
Quando: até 22 de setembro de 2024
Visitação: de quarta a domingo, incluindo feriados, das 9h às 12h e das 14h às 17h – visitas com mediação podem ser agendadas aqui
Onde: Museu da Cultura Hip Hop RS (rua Parque dos Nativos, 545 – Vila Ipiranga – Porto Alegre)
Entrada gratuita

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sábado, 06 a 22 de setembro de 2024

Museu da Cultura Hip Hop RS (rua Parque dos Nativos, 545)

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