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La Brasa Lunera leva o candombe para o Rolê dos Blocos

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La Brasa Lunera leva o candombe para o Rolê dos Blocos Foto: Thalles Matos

A estreia do Rolê dos Blocos reúne quatro atrações neste sábado (22/6), a partir das 20h, na quadra da escola de samba Praiana. O bloco Avisem a Shana que Sábado Vai Chover e os grupos La Brasa Lunera, Maracatu Truvão e Ziriguidum participam da primeira edição do evento. A renda dos ingressos será destinada a integrantes dos coletivos atingidos pelas enchentes e ao quilombo Areal da Baronesa, no bairro Menino Deus, também impactado pelas inundações.

“Estamos pagando pelos erros ambientais de muita gente, é importante somarmos nessa reconstrução. Precisamos fazer circular dinheiro nas comunidades afetadas, seja por cachê, repasse de doações ou garantindo que elas trabalhem nos eventos”, afirma Ian Angeli, idealizador da produtora Pró Bloco, que organizou três circuitos do carnaval de rua oficial de Porto Alegre no último verão e agora dá início a um evento mensal com foco em blocos de rua e grupos que dialogam com a cena carnavalesca, como é o caso do La Brasa Lunera.

Foto: Pedro Bere

Criado há dois anos, atualmente com cerca de 40 participantes, o grupo dissemina a cultura afro-uruguaia do candombe em Porto Alegre. “Sou uruguaia, mas nunca tinha tocado candombe, embora ouvisse desde criança. Acabei tocando no Brasil”, conta Sabrina Collins, que há 12 anos vive na capital gaúcha e integra o La Brasa Lunera desde os primeiros ensaios – quando a pandemia começava a arrefecer, e a cidade via surgirem formações como Candombe Porto Alegre, Tambor Tambora e o La Brasa Lunera. Recentemente, o Candombe das Gurias também ganhou as ruas.

Considerado Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade pela Unesco desde 2009, o candombe – que em quimbundo, língua originária de Angola, significa “dança dos atabaques” – é um nome genérico para diferentes expressões de dança, música e religião difundidas na América do Sul, sobretudo no Uruguai, por escravizados africanos.

“O candombe foi tão forte, profundo e essencial que, em vez de desaparecer – destino ao qual foi condenado em diferentes etapas históricas da nossa nação –, sobreviveu, vencendo todas as barreiras e repressões”, afirma o historiador uruguaio Oscar Montaño, em um site que conta a história do candombe.

Foto: Leandro Anton

Collins explica que há três formas clássicas de tocar o candombe, vinculadas a diferentes bairros de Montevidéu: os toques de Ansina, Cordón e Cuareim. O último, tradição seguida pelo La Brasa Lunera, tem origem no bairro Sur da capital uruguaia e traz os timbres dos tambores chico, repique e piano.

As apresentações do coletivo são formadas por “cortes” em que se alternam ênfases em um determinado tambor, arranjos, velocidades e o padrão rítmico 6×8, vinculado a matrizes africanas. Na dança, destacam-se figuras como as vedetes, a dupla de anciões mamá vieja e gramillero e também o escobero, que usa uma vassoura para abrir os caminhos das comparsas – como são chamados os grupos de candombe.

A bailarina Yasmine Appel, integrante do La Brasa Lunera, ressalta o diálogo dos corpos com os instrumentos: “Com o tambor chico, agudo, são movimentos mais flutuantes. Com os fraseados do repique, o jogo de corpo é com o quadril. Com o piano, que é grave, tem uma internalização da energia da terra, com uma pisada mais forte”.

Integrante do La Brasa Lunera, Gabriel Castro destaca a interlocução do grupo com a cultura do candombe no Uruguai, por meio de trocas com artistas e da encomenda de tambores confeccionados no país vizinho: “O candombe forma redes e comunidades, o que é politicamente importante. Essa movimentação coletiva, a ocupação das ruas e a musicalidade dos tambores são ferramentas da integração latino-americana”.

Um elemento central dessa integração ocorre em 3 de dezembro, Dia Nacional do Candombe, da Cultura Afro-Uruguaia e da Equidade Racial no Uruguai e, desde 2022, dia oficial do ritmo em Porto Alegre. A data marca o despejo, em 1978, dos moradores do Conventillo Mediomundo, um cortiço considerado templo do candombe. Em 5 de dezembro daquele ano, o prédio foi demolido pela prefeitura de Montevidéu.

“Com o trabalho nosso e de outros grupos nas ruas, fomos encontrando espaços para as pessoas entenderem que o candombe também faz parte de Porto Alegre”, afirma Collins. Nos dias 3 de dezembro de 2022 e 2023, na rua João Alfredo, o La Brasa Lunera organizou “chamadas” – que podem ser traduzidas como cortejos, ecoando o Desfile de Llamadas, festa popular do candombe que marca o carnaval em Montevidéu.

Ao longo do ano, além de apresentações em eventos – como a participação no Honk!POA, no último mês de abril –, o La Brasa Lunera costuma ensaiar aos domingos em ruas do Centro Histórico, onde o coletivo também realiza o ritual de afinar os tambores com o calor do fogo.

Foto: Pedro Bere

Neste sábado (22/6), quem já assistiu ao La Brasa Lunera e Maracatu Truvão juntos aguarda o maracandombe, quando os grupos sincronizam batidas e fazem um jogo de perguntas e respostas entre os instrumentos. O momento em conjunto ainda não está confirmado, mas, segundo Sabrina Collins, “todo es candombeable”.

Rolê dos Blocos – com Avisem a Shana que Sábado Vai Chover, La Brasa Lunera, Maracatu Truvão e Ziriguidum

Onde: Quadra da Praiana (Avenida Padre Cacique, 1559 – Praia de Belas – Porto Alegre)
Horário: 20h
Ingressos: a partir de R$ 30 no Sympla – 60% da renda será destinado a participantes dos grupos atingidos pela enchente e 40% à comunidade do quilombo Areal da Baronesa

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sábado, 22 de junho de 2024 | 20h00

Quadra da Praiana (Avenida Padre Cacique, 1559)

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